Saúde

O drama dos hospitais da Zona Sul

Governo do Estado soma R$ 180 milhões em dívidas com instituições filantrópicas, segundo federação

Paulo Rossi -

O ano mal começou e os problemas causados pelo atraso no repasse de verbas à saúde por parte do governo do Estado se acumulam. Serviços prestados em municípios da Zona Sul podem voltar a parar caso nenhuma solução seja apresentada pelo Executivo gaúcho. Pesquisa realizada pela Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Filantrópicos e Religiosos do Rio Grande do Sul aponta que a dívida com as instituições chega hoje a R$ 180 milhões. Os dados são referentes a 245 instituições e, aproximadamente, 60 mil trabalhadores são afetados. Levantamento feito pelo Diário Popular apurou ainda a situação das casas de saúde da Zona Sul, onde os salários de vários profissionais estão em atraso. Dos hospitais consultados, a dívida ultrapassa os R$ 4 milhões.

Titular da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Gabriel Andina confirma o atraso de repasses às unidades de Santa Vitória do Palmar, Piratini e Arroio Grande. Segundo Andina, o que ocorre em Rio Grande são descontos pelo não cumprimento de metas de produção estabelecidas em contrato. Ele também afirma que não há dívidas com Canguçu e Jaguarão - este, conseguiu através da Justiça, o pagamento, porém ainda não foram depositados os valores. A 3ª CRS atende 22 municípios da Zona Sul, área onde vivem 845 mil pessoas.

Confira a situação em sete cidades da região

Pelotas
A Santa Casa de Misericórdia de Pelotas é outra entidade filantrópica com passivos atrasados pelo Poder Público estadual. Segundo dados repassados pelo presidente do Conselho Deliberativo, Paulo Tejada Xavier, o Estado deve cerca de R$ 300 mil relativos a novembro. A verba do mês de dezembro ainda não chegou, porém ainda está dentro do prazo. As principais áreas atingidas são a Casa da Gestante, os leitos de UTI tipo 2, o plantão presencial de traumatologia e buco-maxilo-facial e a porta de entrada da traumatologia. Outro hospital da cidade com problemas referentes a repasses é o Hospital Espírita. Segundo Tiago Martinato, administrador da entidade, a instituição trabalha hoje no seu limite financeiro. O pagamento de incentivos por parte do governo do Estado está atrasado. "Temos três meses do primeiro semestre de 2015 ainda pra receber", comenta. Atualmente, 160 pacientes, de um total de 199, são atendidos via Sistema Único de Saúde (SUS), o que equivale a 80% do total. A parcela de dezembro, próximo a R$ 89 mil, ainda não foi depositada.

Rio Grande
Na Associação de Caridade Santa Casa de Rio Grande, parte da verba de novembro e toda a de dezembro não foram depositadas aos profissionais. O 13º salário aos funcionários não foi pago e o hospital também atrasou as férias. O Diário Popular não conseguiu contato com o superintendente do hospital, Jeferson Alonso dos Santos.

Canguçu
Desde o dia 2 de janeiro os trabalhadores cruzaram os braços e permanecem acampados em frente ao Hospital de Caridade de Canguçu (HCC). Os salários de novembro, dezembro e o 13º não foram pagos. Com apenas 30% dos funcionários em serviço, os atendimentos não foram afetados. Na manhã da última sexta-feira enfermeiros e bioquímicos também aderiram à paralisação. De acordo com a presidente do Sindisaúde, Bianca Macedo, os trabalhadores permanecerão em greve até que sejam acertadas as três folhas atrasadas. Em assembleia realizada dia 2 ficou decidido pela greve dos enfermeiros e farmacêuticos que trabalham no local. Conforme Estevão Finger da Costa, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (Sergs), os trabalhadores entraram em greve na sexta-feira - respeitando o prazo legal de 72 horas após o aviso da decisão. De acordo com Régis Silva, diretor administrativo, todos os setores estão paralisados e as folhas serão quitadas assim que os repasses chegarem ao caixa da instituição. O administrador busca, no momento, alternativas para sanar dívidas históricas do hospital, firmando parcerias com a prefeitura e contatando com parlamentares ligados à cidade. Cerca de R$ 1 milhão está em atraso, referente a um contrato encerrado em 21 de outubro de 2016, informou o diretor.

São Lourenço do Sul
O atendimento da Santa Casa de Misericórdia de São Lourenço do Sul também pode parar no início de fevereiro. As dívidas do governo do Estado com o hospital giram em torno de R$ 800 mil - referentes a março, abril e dezembro de 2016. Segundo o administrador José Ney Pereira Lamas, o hospital opera com déficit de R$ 600 mil por mês, ainda que todos os serviços da entidade estejam mantidos até o momento. Médicos estão sem receber há três meses (outubro, novembro e dezembro do ano passado).

Jaguarão
Em Jaguarão ainda faltam ser depositados cerca de 30% referentes a dezembro, segundo Igor Dias, do setor administrativo. A Santa Casa de Caridade está sob intervenção da prefeitura desde 2013. Com o atraso nas parcelas de novembro e dezembro, o Estado acumula com o hospital cerca de R$ 400 mil em dívidas. Até sexta-feira ainda não havia depositado qualquer valor e a casa não conseguiu pagar os 30% de salário dos funcionários relativos ao último mês. Segundo Luisiane Costa Pinto, também do setor de administração, os salários dos médicos estão atrasados - em torno de R$ 200 mil, referentes a setembro, outubro e novembro de 2016. Dezembro já foi quitado.

Arroio Grande
A Santa Casa de Misericórdia de Arroio Grande está com os salários referentes a dezembro atrasados. O Estado deve R$ 235 mil relativos a março, abril, maio, outubro e novembro de 2016, afirmou à reportagem Renata Carriconde, superintendente. O 13º salário dos funcionários não foi pago.

Santa Vitória do Palmar
No extremo sul do Estado, em Santa Vitória do Palmar, o Estado deve R$ 1.139.201,00, segundo a administração da Santa Casa de Misericórdia. Sabrina Correa, diretora-geral, informou ainda que 35% do salário do mês de novembro não foram pagos apenas para médicos. Também faltam ser quitados 25% do 13º salário dos funcionários.

No RS
Dados da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Filantrópicos e Religiosos do Rio Grande do Sul

- 60% das instituições não terão como pagar a folha de dezembro, com vencimento no quinto dia útil do mês
- 39% estão com o pagamento de férias atrasado
- 27% ainda não cumpriram com o pagamento do 13º salário
- 42% estão com salários de outros meses atrasados

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