Pesquisa

Os benefícios que vêm da estatura do bebê

Novo estudo do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, com participantes da Coorte de 1982, revela que crianças que cresceram acima da média em altura, até os dois anos, apresentaram melhor desempenho em QI e nos níveis de escolaridade e de renda,

Jô Folha -

O desenvolvimento dos bebês, ao longo dos primeiros mil dias de vida, vira alvo de novo estudo do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O trabalho - realizado com base em acompanhamento dos nascidos em 1982 - revela que crianças que cresceram acima da média em estatura até os dois anos de idade apresentaram melhor desempenho nos testes de inteligência e nos níveis de escolaridade e de renda aos 30 anos.

A pesquisa, já publicada no periódico científico The Journal of Pediatrics, ajuda a quebrar antigos padrões que mantinham o alvo direcionado ao ganho de peso, sem desconectá-lo das análises de altura. E mais: o estudo liderado pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, Bernardo Horta, reforça: o impacto sobre os três indicadores de capital humano - QI, escolaridade e renda - não se confirmou quando observado o ganho de peso acima do esperado na primeira infância. Os resultados estão diretamente associados ao crescimento linear (estatura), nos primeiros anos de vida.

“É mais uma evidência da importância dos primeiros mil dias”, destaca o médico. É a chamada janela de oportunidades para intervir, desde a gravidez, com reflexos a longo prazo. Daí a importância tanto do pré-natal quanto das visitas periódicas ao pediatra, que identificará as crianças de risco e poderá definir estratégias nutricionais baseadas na realidade socioeconômica dos pacientes.

Fique atento
A pesquisa deixa uma reflexão não só à classe médica, mas também a toda a comunidade. Os esforços direcionados ao ganho rápido de peso em bebês com restrições de crescimento em países de baixa e média rendas, no futuro, podem se converter em risco de obesidade, síndrome metabólica e doença cardiovascular.

É, portanto, um dos alertas do estudo, embora se reconheça os benefícios do ganho de peso a curto prazo, como a redução da morbidade e da mortalidade devido a doenças infecciosas.

“As intervenções nutricionais na infância devem ser focadas na promoção do crescimento em estatura”, reforça o doutor em Epidemiologia. Programas de monitoramento do crescimento também devem incorporar medidas de altura - enfatiza o médico Bernardo Horta.

Confira um dos resultados
As crianças que, aos dois anos, haviam crescido pelo menos um ponto acima da média na curva, obtiveram 4,28 pontos a mais na escala de QI, 1,58 ano a mais de escolaridade e R$ 303,00 de acréscimo na renda, em média, aos 30 anos de idade.

Saiba também: O impacto positivo que o bom desempenho em estatura na primeira infância pode ter na performance de renda, grau de instrução e testes de inteligência, quando adulto, não tem qualquer relação com a altura que este cidadão atingiu no futuro. Os baixinhos, portanto, não estão em desvantagem.

Cérebro estimulado
É fundamental nutrir o cérebro. Ele não crescerá apenas de tamanho. O desenvolvimento cerebral se mantém intenso também no período pós-natal, principalmente nos primeiros anos de vida.

Coorte de 1982: referência mundial (*)
O trabalho, que surgia como o primeiro grande estudo epidemiológico no Brasil, tinha o objetivo de avaliar a influência que os fatores inerentes ao período do nascimento da criança mantinham em relação a sua saúde na infância, como as condições de saúde da mãe e do bebê, o peso ao nascer, a alimentação, as condições ambientais em que a família vivia (saneamento e habitação) e a qualidade da assistência médica a que a criança estava sujeita.

A hipótese central do estudo baseava-se em que a saúde das crianças de um país com tantas desigualdades, como o Brasil, deveria apoiar-se no entendimento da realidade social. O trabalho, pioneiro, foi tão bem aceito pela comunidade científica que, no ano seguinte, a Organização Mundial de Saúde (OMS) concedeu financiamento para a realização do primeiro acompanhamento.

A Coorte tornou-se referência mundial e agregou importantes pesquisadores de diversas áreas da saúde. Com tanto interesse dos diversos segmentos da ciência mundial, o estudo foi além das expectativas iniciais e os nascidos em Pelotas em 1982 continuam sendo acompanhados até os dias de hoje. A investigação ampliou-se para a avaliação sobre a influência que os fatores inerentes ao nascimento mantêm na saúde do adolescente e do adulto.

Até agora, já foram dez encontros desde o nascimento dos 5.914 bebês: em 1982, 1983, 1984, 1986, 1995, 1997, 2000, 2001, 2004 e 2012. Um acompanhamento que, às vezes, tem como público-alvo todos os participantes da Coorte; em outras, apenas parte deles.

(*) Fonte: Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel

Atenções voltadas ao desenvolvimento
O pequeno Davi Coimbra, de cinco meses e meio, tem se mantido dentro da curva de desenvolvimento. Na próxima segunda-feira é dia de voltar ao pediatra. Na última consulta, há um mês, estava com 64 centímetros e 6,700 quilos. A intenção da servidora pública Daniela Coimbra, 33, de manter a amamentação exclusiva até os seis meses - como fez com a primogênita Sarah, hoje com cinco anos - não se confirmou.

“Ele é muito esfomeado. Esvazia o meu peito e segue com fome”, conta. Foi quando, com orientação médica, passou a oferecer frutas e papinhas de legumes para o caçula. E não há o que ele rejeite - descontrai a mãe -, principalmente se no cardápio surgem as deliciosas abóbora e manga.

A decisão de investir na amamentação permanece. Sarah mamou até os dois anos e 11 meses. Davi, por certo, também irá mamar até, pelo menos, os dois anos de idade; conforme recomendações da OMS - garante Daniela, ciente dos benefícios imediatos à saúde e ao futuro dos filhos.

Como incentivar o desenvolvimento também em estatura?
#Priorizar a amamentação, que deve ser alimento exclusivo até os seis meses de idade, e se prolongar até os dois anos, como o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
#Realizar a introdução apropriada e correta dos alimentos, conforme orientação médica.
#Atentar-se ao calendário de imunizações (vacinas) para prevenção de doenças infecciosas, como problemas respiratórios e diarreia.
#Apostar na monitorização adequada e periódica do crescimento durante a infância, para que as equipes de saúde possam desenvolver ações de recuperação do crescimento das crianças que estejam, eventualmente, abaixo na curva. O tratamento rápido das doenças infecciosas também é essencial.

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