Criminosos
Patrimônio escondido pelo medo do crime e vandalismo
Para evitar furtos, placas de bronze são retiradas da fachada da Bibliotheca Pública; local já teve dois dos itens históricos arrancados
Foto: Volmer Perez - DP - Trabalhadores retiraram placas nesta quarta (14)
Por Victoria Fonseca
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(Estagiária sob supervisão de Vinicius Peraça)
A Biblioteca Pública Pelotense (BPP) retirou de sua fachada as últimas três placas de bronze restantes das cinco que ornavam as paredes do prédio há cerca de um século. A medida foi tomada pela direção da instituição para prevenir que as peças históricas fossem furtadas, assim como ocorreu, neste ano, com outras duas que foram arrancadas do local por criminosos. Os itens não foram recuperados.
Quem passou em frente à BPP na tarde desta quarta (14) pôde observar homens trabalhando em uma espécie de “reforma” nas paredes do edifício. Isso porque foi necessário cobrir as grandes fissuras quadradas que ficaram depois da retirada das três placas. As peças que homenageiam o poeta Lobo da Costa e a José Gomes da Costa e Silva serão fixadas no hall de entrada, assim como as mais recentes que já estão no local, a fim de manter exposto o patrimônio histórico pelotense, mas protegido de possíveis furtos. A partir de agora, nenhuma homenagem ou artefato será exposto na parte externa.
A extração das placas e realocação dentro da Bibliotheca, assim como os reparos nas paredes em que estavam, está sendo possível graças a uma parceria da instituição com a Faculdade de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel. “Elas foram retiradas sem dano algum, estão perfeitas”, afirma o presidente da BPP, Sérgio Cruz Lima.
Sobre as peças furtadas, Lima conta que está estudando outras formas de substituição, já que ele mesmo não tem esperança que as originais sejam recuperadas. “Tenho as fotos delas e estou tentando recuperar de outras maneira, é a memória da cidade. Mas lá fora já foi desistido, não tem como [encontrar], já derreteram e acabou”, lamenta.
Falta de atuação do Poder Público
Para a museóloga da BPP Janaina Rangel, é necessária uma atuação maior do Poder Público na fiscalização e preservação do patrimônio. “Principalmente se há um comércio dessas placas, para que os responsáveis sejam punidos. Isso é um patrimônio, ele tem que ser preservado, ele conta a história da cidade”, enfatiza. Ela lamenta que a ação de bandidos e vândalos provoque o recolhimento das peças. “Acaba ferindo a memória das instituições e das pessoas.”
Desaparecimento de parte da história
A prevenção adotada pela BPP se justifica, já que neste ano foram registrados furtos de peças do patrimônio público do Município. Além das placas da Bibliotheca, um monumento que fazia parte não só da história de Pelotas, mas também do País, sumiu do Centro da cidade. O busto em bronze que homenageava o ex-presidente da República Getúlio Vargas, que ficava na rua 15 de Novembro, esquina com a praça Coronel Pedro Osório, desapareceu em julho. A peça foi feita na época em que o trabalhista foi ministro da Fazenda, entre novembro de 1926 e dezembro de 1927, e é um Patrimônio Histórico Cultural tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A investigação do crime já foi concluída pela Polícia Federal (PF) e enviada ao Ministério Público Federal. Conforme o delegado da PF em Pelotas, Robson Robin, o furto do monumento foi praticado por um homem em situação de rua para a venda do metal e compra de drogas. No entanto, as imagens capturadas do suspeito eram de baixa qualidade, impedindo assim a confirmação da autoria.
Além disso, diligências foram feitas para localização do objeto, mas o busto não foi encontrado. “O furto ocorreu em uma madrugada fria e com névoa. Essas condições, somadas às más qualidades das muitas imagens de CFTVs [câmeras] públicos e privados não permitiram a identificação cabal do suspeito. Dedicamos bastante energia, mas não se chegou a uma definição do autor”, explica Robin.
Entre os patrimônios públicos furtados em 2022 também estão 54 rostos humanos e figuras de animais do gradil do Casarão 6, alguns com a coluna inteira, e três placas do Theatro Sete de Abril.
A Polícia Civil foi questionada sobre o andamento das investigações, mas até o fechamento desta matéria não houve retorno do órgão. Procurada para falar sobre a recuperação dos patrimônios e ações de prevenção a furtos e danos, a Prefeitura de Pelotas informou no fim da tarde de ontem que realizava levantamento sobre os itens e que se manifestará sobre o tema assim que concluído.
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