Ambiente

Piranha-amarela pode chegar à Lagoa Mirim

Duas palometas foram encontradas por pescadores na Lagoa dos Patos, entre São Lourenço do Sul e Arambaré

Foto: reprodução - DP - Pesquisadores apontam que a presença da espécie nas águas da região deve aumentar

Por Cíntia Piegas
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Pode ser até conversa de pescador. Mas desde o surgimento de duas piranhas na Lagoa dos Patos, entre São Lourenço do Sul e Arambaré, o assunto domina as rodas de bate-papo dos trabalhadores da pesca artesanal no Estado. A presença da espécie de cor amarelada, da família dos Serrasalmus Maculatus, intriga professores e pesquisadores, além de preocupar equipes do Ibama que trabalham em um Plano Estadual de Prevenção, Controle e Monitoramento da invasão biológica do peixe conhecido por palometa. O temor é que a piranha chegue até a Lagoa Mirim impactando a economia local e causando desequilíbrio ecológico.

Quem conta a história é o pescador Marcelo Freitas. Ele estava na Lagoa com um amigo quando recolheu a rede e percebeu que algumas espécies estavam carcomidas. "Foi quando achamos as duas piranhas de cerca de 30 centímetros", relatou. Imediatamente registrou o fato em vídeo, que viralizou. Marcelinho do Peixe, como é conhecido, explica que a espécie não é agressiva e que não deve chegar até as praias de São Lourenço do Sul e Laranjal porque são de água doce e, nesta época do ano, a água costuma ficar salgada. Pela lógica, o pescador acha que o peixe entrou pela Lagoa Mirim e subiu para fugir da salinidade das águas próximas ao mar, em Rio Grande. Especialistas, entretanto, apontam que a trajetória se deu de forma contrária, embora a possibilidade de invasão nas águas doces do Sul do RS não esteja descartada.

O diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUC-RS, professor Nelson Ferreira Fontoura, explica que a piranha-vermelha não existe no Estado, como vem sendo noticiado. "Temos a palometa, que em algumas regiões chamam de piranha-amarela. Ela chegou na bacia Jacuí e Lagoa dos Patos provavelmente em região de sobreposição de nascentes dos rios Ibicuí e Vacacaí", esclareceu. Segundo o estudioso, que vem acompanhando a espécie há algum tempo, a piranha-amarela, uma vez introduzida, vai ampliar naturalmente sua distribuição.

Para complicar a situação, o analista ambiental do Ibama, Maurício Vieira de Souza, explica que a palometa, depois que chega em um ambiente aquático, não tem mais como erradicar. "O que estamos fazendo é acompanhar a localização geográfica para projetar onde a espécie pode chegar. Com isso contamos com a participação de segmentos da sociedade que noticiam o aparecimento, grupos de WhatsApp de pescadores, além de pesquisadores."

O professor Fontoura esclarece ainda que os peixes, estando já na porção média da Lagoa dos Patos, podem colonizar o canal São Gonçalo em momentos em que a porção Sul da Lagoa não esteja salinizada. "Do canal de São Gonçalo até a Lagoa Mirim é apenas uma questão de oportunidade para atravessar a eclusa. Mais cedo ou mais tarde vai ocorrer." Esse tempo pode se estender até o inverno do ano que vem, pois, com o verão se mantendo seco, a água da Lagoa fica mais tempo salobra.

Reflexos
O professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Alexandre Miranda Garcia, conta que essas espécies são comuns na bacia do Uruguai, ou seja no lado Oeste do Rio Grande do Sul, e ainda é um mistério elas estarem aparecendo na Lagoa. "Especialistas que estudam há mais tempo suspeitam que os canais de irrigação têm sido o caminho para as piranhas cruzarem a bacia hidrográfica do Estado." A preocupação do professor não é com a cidade de Rio Grande, mas com a possibilidade das palometas avançarem até a Lagoa Mirim, que é um ambiente propício para se estabelecerem e se reproduzirem. "Isso pode ocorrer no inverno quando o período de chuva aumenta e a água doce no canal São Gonçalo facilitaria a passagem."

Como reflexo econômico, a presença das palometas pode causar, ao longo do tempo, prejuízos às famílias de pescadores da região, uma vez que as piranhas se alimentam de peixes nativos pequenos e filhotes, o que vai diminuir a reprodução das espécies, consequentemente, a pesca na Lagoa Mirim. "Outro fator é a questão da competição entre as espécies em busca de alimentos, uma vez que a traíra, por exemplo, também come peixes. Isso pode provocar um desequilíbrio ecológico." Em escalas menores, Garcia aponta ainda a questão das piranhas se juntarem a cardumes e, uma vez vindo na rede, podem beliscar outros peixes e até estragá-los.

A solução estaria longe de acontecer, pois dependeria de tecnologia e modificação genética dessa espécie. A boa notícia é que o impacto turístico não será tanto, uma vez que a palometa não permanece em água salobra e, caso isso aconteça, pode causar pequenos acidentes, a exemplo de situações relatadas na Argentina, onde banhistas estão acostumados a conviverem com as piranhas-amarelas.


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