Estragos
População tenta se reerguer no Hermenegildo
Ciclone extratropical causou danos em cerca de cem casas no balneário; prefeitura de Santa Vitória do Palmar deve decretar Emergência até sexta-feira
Carlos Queiroz -
Por: Renata Garcia, enviada especial
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As rajadas de vento de até 87 quilômetros por hora sobre a praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, causaram prejuízos ainda difíceis de mensurar. Aproximadamente cem casas, situadas à beira do balneário, foram atingidas. Destas, o Executivo calcula que cerca de 40 foram totalmente destruídas. O prefeito Eduardo Morrone (PT) assegura que até sexta-feira - quase uma semana da chegada do ciclone extratropical - o município irá decretar situação de Emergência à Defesa Civil do Rio Grande do Sul.
As ondas voltaram a quebrar sem agito, ontem, e o céu ensolarado estava limpo. Entre a comunidade, no entanto, o silêncio e os olhares denunciavam a angústia. Apesar de não haver pessoas feridas, muitas das consequências do fenômeno natural são irreversíveis. Ainda assim, a população tenta reparar os estragos como pode. O caseiro de uma das residências, que prefere não se identificar, lembra que bastou ele trocar de peça para a ventania deixar de ser o principal problema: "Virei as costas depois de pegar o colchão e o quarto desabou. Caiu tudo", contou, enquanto removia os móveis que ainda resistiram.
Moradora do Hermenegildo, a oficial de Justiça Nadia Rosiski Caminha relata com dificuldade a situação que enfrenta com a família, desde a última quinta-feira, quando a água invadiu a casa e chegou até a rua Cruzeiro do Sul. "A água vinha até a cintura, me molhei toda e acabei ficando sem voz. A gente sabia que isso poderia acontecer, mas daqui a gente não sai", garantiu, ainda rouca. Ela e o filho, que trabalhavam na ampliação da residência antes da ventania, estão hospedados em locais separados, já que por enquanto não é seguro voltar para casa. "Não é só perda material, é muito mais", emociona-se.
>>> Galeria de fotos da destruição no Hermena
O pátio da casa que Tibiriçá Araújo vive há sete anos, com a família, parece nunca ter existido. Pedras, cimento, tijolo e areia ocupam o lugar das árvores e do gramado, que ficavam de frente para o mar. "Nunca tinha acontecido nada parecido com isso", comenta o aposentado, que testemunhou ondas "de três a cinco metros" se formarem. Desde o episódio, busca proteger o lar de uma possível reprise. Ao lado dos filhos, Araújo quer erguer às pressas um muro de contenção - que, ele calcula, deve lhe custar em média R$ 50 mil. A residência, felizmente, não foi totalmente comprometida.
A contenção das pedras em frente à casa de Rodrigo Vasques foi o que protegeu a estrutura de não desabar por inteiro. Ainda assim, o estrago foi grande. O empresário estima um gasto de até R$ 30 mil para recuperar a fachada da residência. "Só um caminhão com pedras custa uns R$ 1,7 mil. Eu nem sei direito de quantos vou precisar... Já foram quatro", afirma. Há pontos do balneário onde não há sequer rastros do que, antes das rajadas de vento, era uma casa. Nem mesmo a carcaça da construção está presente. A maioria das residências afetadas no Hermenegildo era de veraneio; de pessoas que moram em Santa Vitória do Palmar ou no Uruguai.
Emergência e atenção
De acordo com o prefeito Eduardo Morrone (PT), ontem à tarde, foi definido em reunião que o município entrará com pedido de decreto de Emergência ao governo do Rio Grande do Sul. Segundo ele, ainda não há número específico de danos - embora a estimativa de casas atingidas seja de cem. "Criamos uma equipe multidisciplinar que irá fazer todos os cálculos de prejuízos públicos, privados, na área turística e também quantas pessoas afetadas. Até quinta-feira teremos o resultado", garante. Na sexta-feira, então, ele garante entrar com a papelada para a solicitação ao Estado.
Outra medida, ainda, foi tomada. A partir de hoje, para acessar as áreas de risco do balneário será necessário ter autorização. "Faremos um decreto municipal de interdição preventiva da orla costeira, por prazo de 15 dias. A prefeitura vai liberar pessoas, máquinas e veículos, mas é preciso fazer o controle. Tem muito curioso que anda por ali se arriscando", atenta.
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