Saúde
Por um tratamento mais humanizado
Na Semana Nacional da Luta Antimanicomial, foco na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) é discutir o cuidado em liberdade e autonomia de usuários da saúde mental
Na Semana Nacional da Luta Antimanicomial, profissionais de saúde, usuários e familiares discutem o funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) em Pelotas.
As atividades se iniciaram nesta segunda-feira (15), com a 1ª Conferência Livre de Saúde Mental, e seguem até sexta-feira. Nesta terça, ocorre Audiência Pública na Câmara de Vereadores, quando será apresentada uma carta produzida pelos 180 participantes da Conferência.
Além da reivindicação pelos direitos das pessoas em sofrimento psíquico, de combate aos estigmas e preconceitos, a Conferência organizada por movimentos sociais foi também consequência do assassinato de um usuário da saúde mental, em uma situação de crise na Cohab Tablada, no mês de março, informou a professora de Terapia Ocupacional da Universidade Federal (UFPel), Larissa Dall'Agnol. "Queremos a proteção e garantia de direitos", afirmou ela, em referência à lei 10.216/01, que redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, que engloba o fechamento de manicômios e a capacitação de profissionais, o que poderia ter evitado a tragédia.
Atualmente Pelotas não possui leitos psiquiátricos em hospitais gerais, o que dificulta a entrada dos pacientes na rede de saúde e atrapalha o pleno funcionamento da Raps. Conforme a coordenadora da Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Cynthia Yurgel, essa é uma necessidade urgente para garantir o cuidado em liberdade. A Rede ainda precisa ser melhor estruturada, o que vem sendo discutido dentro da SMS e durante a semana, como a integração dos oito Centros de Atenção Psicossocial (Caps), ambulatórios, oficinas terapêuticas, Consultório na Rua, Saúde da Família, Unidades Básicas de Saúde, de Pronto Atendimento e Pronto-Socorro, para que a atenção básica possa receber e tratar os pacientes em todas as esferas, inclusive urgências e emergências. A eliminação de internações trabalha ainda a reinserção dos usuários no meio social. "É o resgate da autonomia dos pacientes" disse Cynthia.
"Estou lutando pelo bem dos meus amigos", contou José Fernando Borges, 55, que por anos viveu internado em sanatórios devido a fortes crises de epilepsia. As marcas do tratamento estão gravadas na memória, assim como as experiências do tempo de privação passado no tratamento manicomial, mas com alegria ele lembra de quando finalmente pôde contar com o apoio do Caps Escola, onde aprendeu a controlar o temperamento e fez novas amizades. Borges, que é membro da Associação de Usuários da Saúde Mental de Pelotas, resume de maneira simples sua motivação para participar da luta antimanicomial: "Não quero que outros passem pelo mesmo que eu".
Semana Nacional de Luta Antimanicomial
O Movimento Antimanicomial tem o dia 18 de maio como data de comemoração, que remete ao Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental ocorrido em 1987, na cidade de Bauru, no estado de São Paulo, que reuniu mais de 350 profissionais. Em Pelotas as discussões seguem durante toda a semana, com programação especial que convida a comunidade a pensar em alternativas para o tratamento e o apoio dos usuários.
Terça-feira: 14h - Audiência Pública referente à Semana da Luta Antimanicomial, na Câmara Municipal.
Quarta: 8h - Encontro de trabalhadores da Raps, na sala 100k do prédio Santa Margarida.
8h30min - 1° Encontro da Diversidade: Desconstruindo a Homofobia, no Salão Nobre da prefeitura de Pelotas.
14h30min - Mercado Central de Pelotas - Pátio 1
Quinta: 9h - Movimento da Luta Antimanicomial na rua, no chafariz da rua 7 de Setembro.
Sexta: 9h30min - Roda de conversa: Políticas de equidade e saúde mental - Local a definir
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