Educação reprovada
Quase no meio do ano e ainda sem professores
Alunos da Educação Infantil continuam sem aula mesmo depois de reformas e ampliação de vagas na rede municipal
Paulo Rossi -
É difícil para a pequena Alicia entender o motivo pelo qual ela já tem uniforme, conhece a escola e mesmo assim não pode ir à aula. A razão para isso é uma palavra que nem adianta tentar explicar para a menina de apenas cinco anos e enorme vontade de brincar e aprender: burocracia. É ela que está fazendo com que crianças pelotenses fiquem sem aula enquanto salas estalando de novas permanecem vazias, só à espera dos alunos.
Mãe de Alicia, Rochele Ricardo, 29, lamenta que a filha seja uma das 30 crianças que continuam aguardando professores na Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Sanga Funda, Zona Norte de Pelotas.
Hoje, apenas metade das 60 vagas do educandário instalado provisoriamente na antiga Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro está ocupada. E ao invés dos três professores necessários, apenas uma profissional está atuando. As demais crianças, apesar da estrutura física existente, continuam em casa. “Ela vê a irmã mais velha ir estudar todos os dias e chora porque quer ir também. Já estamos praticamente na metade do ano e não temos uma solução. Acho que não é tão difícil para a prefeitura resolver isso”, reclama.
E não parece tão difícil, mesmo. Afinal, a própria Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed) afirma que a causa de todo o transtorno está na espera pelo concurso público que ofereceu vagas para professores. Aberto apenas no final de março - após o início do ano letivo - e com resultado recentemente homologado, o certame ainda trouxe mais um problema: dos 39 professores necessários para zerar o déficit da Educação Infantil na cidade, apenas seis foram aprovados no concurso da prefeitura.
“A saída será enviar à Câmara de Vereadores, já na próxima semana, um projeto para a contratação emergencial dos demais”, explica o secretário Arthur Corrêa. Se a tramitação for ágil, o titular da Smed assegura que em até 20 dias todos os alunos poderão, finalmente, começar o ano escolar de 2017.
Pais preocupados
Desde março aguardando por uma solução para a falta de vagas, mães e pais acabam batendo às portas das escolas e cobrando uma data para que os filhos tenham aula. Entretanto, pressionados de um lado por quem precisa do atendimento e, por outro, pela Smed, os diretores acabam ficando sem saber como lidar com a situação. Alguns recorrem ao silêncio.
Procurada pelo Diário Popular para falar sobre a falta de professores a crianças entre zero e três anos, a diretora da Emei Dyrio Gorgot, ampliada de 46 para 120 vagas e reinaugurada em dezembro no Fátima, não quis conversar com a reportagem.”Não tenho a ver com o problema e não sou obrigada a dar entrevista”, disse Angela Haddad.
Enquanto a gestora passa o problema para a Smed, a filha de um ano e oito meses de Gabriele Braga, 29, ainda não conseguiu ir à escola. Mesmo estando matriculada. “A Melissa foi sorteada, fizemos a matrícula e, mesmo assim, ficou de fora. Só existe professora para uma turma nessa idade, o que deixou dez crianças de fora até agora”, reclama. Estudante do último ano de Enfermagem, Gabriele está preocupada com a filha e, também, com a sua graduação. “Não estou podendo assistir a todas as disciplinas como deveria e nem entrei para o estágio final ainda. Posso acabar perdendo o ano.”
Outras escolas
Os casos da Sanga Funda e da Dyrio Gorgot não são isolados. Como o município conta atualmente com 28 Emeis e uma necessidade de 39 novos professores, Arthur Corrêa admite que há outras instituições com turmas aguardando a contratação de profissionais para poderem entrar em atividade. Especialmente na faixa etária entre zero e três anos. Mas ressalta: apesar de estar investindo na construção de seis novas escolas para atender crianças de zero a seis anos, a maior preocupação é com os alunos a partir de quatro anos de idade.
“O Plano Nacional de Educação exige que, desde o ano passado, todos nessa faixa etária estejam matriculados. E, nesse sentido, não há falta de vagas e iremos recuperar os 200 dias letivos com a contratação emergencial de professores. Já sobre os menores, entre zero e três anos, o Plano diz que temos até 2024 para atender 50% da demanda. E estamos trabalhando nisso”, projeta, sem dar informações sobre alunos sem aula atualmente.
Números e metas à parte, o que a mãe de Alicia, na Sanga Funda, de Melissa, no Fátima, e muitas outras querem é ver as crianças na escola. “Já estamos em abril e a prefeitura não sabia desse déficit? As crianças têm esse direito”, diz Rochele.
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