Quatro motocicletas, quatro amigos, quatro meses. Quinze países, 35 mil quilômetros. São os números que definem o sonho e a aventura da vida de um grupo de motociclistas pelotenses que partiu da cidade natal, no sul do Brasil, rumo ao Alasca, no norte do continente americano. A manhã fria de um domingo de outono gaúcho - fazia 8°C - serviu como uma prévia dos cenários bem mais extremos que os aguardam na estrada.

Nem a ansiedade tirou do rosto o sorriso quase adolescente dos sessentões que deram a largada para realizar esse desafio. Acompanhados de outros motociclistas parceiros nos primeiros quilômetros, Valter Poetsch, Renato Solé, Alvaro Grill e Noredin Muhammad partiram de Pelotas com destino, mais precisamente, em Anchorage, maior cidade do estado americano do Alasca.

A saída, no entanto, não foi nem de perto o primeiro passo da jornada, que, além do planejamento, conta com os anos de experiência do grupo sobre duas rodas. A partida, às vésperas do inverno do hemisfério sul, é com o propósito de chegar no Alasca durante o verão, com temperaturas menos extremas - no inverno, as mínimas podem ser de -30°C. No entanto, o inverno na América do Sul também será um desafio.

A ideia da trip surgiu há cerca de quatro anos, quando Valter e Noredin decidiram celebrar os 60 anos, que completarão em 2023, de uma maneira especial. A partir daí, Alvaro e Renato se somaram ao grupo. “É um sonho que a gente já planejou há alguns anos e, agora, é o momento de realizar ele. Isso aqui renova e nos dá uma boa energia pra voltar aos 20 anos de idade”, diz Noredin.

Minutos antes de pegar a estrada, a ansiedade se misturava ao clima de festa. “Não dormi a noite toda. A expectativa é boa, vai ser uma excelente viagem, os companheiros são ótimos”, compartilha Alvaro que, apesar de ansioso, está seguro e confiante. “A estrada está dominada, as motos a gente conhece bastante. Quando tu está na estrada, tu não sente dor, tu não sente nada. Se tu ficar em casa vendo televisão, tu te levanta todo duro”, brinca.

Renato fala que entrou na aventura depois de ouvir Valter falando sobre a viagem. “Imediatamente eu disse pra ele, ‘tô nessa, não vou deixar passar’”, compartilha, ressaltando que o grupo tem idades parecidas e que é uma oportunidade que só se tem uma vez na vida. “Eu sei que conviver um dia, dois dias, é uma coisa, agora, 120 dias é bem diferente, então tem que ter um amadurecimento muito grande pra isso”, explica.

O papel de, de certa forma, coordenar o grupo, coube a Valter. Ele explica que não houve um grande planejamento, e que o objetivo é curtir a jornada. “Vamos passar por 15 países, com diversas culturas diferentes. Cada fronteira tem os seus detalhes”, diz ele, que estudou cada país para garantir a segurança. No México, por exemplo, onde há presença de narcoguerrilha, o grupo não viajará à noite e irá se manter nas estradas principais.

A inspiração para a ida ao Alasca vem da Rodovia Pan-Americana, que começa no extremo sul do Chile e vai até o Alasca. Apenas um pequeno trecho, de menos de cem quilômetros, não poderá ser feito sobre rodas, na passagem da Colômbia para o Panamá. Lá, as motos devem ser embarcadas em um navio e o grupo fará a travessia de avião.

Para Valter, o maior desafio vai ser as temperaturas ainda na América do Sul. “Principalmente no Chile, na parte da Cordilheira dos Andes, com temperaturas negativas. Depois, temperaturas extremas, principalmente nos Estados Unidos, no deserto de Nevada, que chega a quase 50°C. Depois, ainda, temperaturas baixas no Alasca, mesmo sendo verão lá”, explica.

Nos Estados Unidos, o objetivo é ir pela costa do oceano Pacífico e voltar pela costa do Atlântico. Chegando em Miami, na volta, eles decidem se continuam o retorno de moto ou de avião. “Pra essa viagem, nós optamos por não fazer planejamento. Só viver um dia depois do outro e andar”, diz Renato.