Um icônico e importante espaço para Pelotas que segue sem ser usado por sua comunidade, esse é o atual cenário do Grande Hotel. O local que servirá de laboratório para os alunos do curso de Hotelaria da UFPel estava sendo restaurado desde 2019, mas desde dezembro do ano passado está com as obras paralisadas. O motivo apontado pela universidade é que os custos ultrapassaram o valor repassado pelo governo federal e, agora, não há previsão para que seja concluído e entregue.

Localizado no centro da cidade, o prédio foi inaugurado em 1928 e, com a sua arquitetura imponente, foi por anos o hotel mais importante de Pelotas e região. Após o seu fechamento, na década de 1970, ficou sem utilidade por um longo tempo. Até que em 2011 o local que até então era de responsabilidade da prefeitura foi repassado à UFPel para que fosse transformado em um hotel-escola. Em 2014 o prédio, tombado como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi contemplado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, do governo federal com a garantia de R$ 8,7 milhões para que a UFPel realizasse as intervenções de recuperação.

Apesar disso, a obra só foi iniciada quatro anos depois, em 2019. Devido a essa demora, novos problemas apareceram no prédio, como queda de rebocos e apodrecimento de assoalhos e esquadrias. Com a necessidade de fazer novos ajustes, o antigo orçamento já não cobria as novas despesas, segundo a UFPel. A Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento (Proplan) alega que a necessidade dessas novas intervenções gerou acréscimo de R$ 270 mil. Assim, foi necessário paralisar a obra em 27 de dezembro de 2021, já que o Iphan manteve a decisão de repassar apenas valores já previstos no orçamento.

Aliado a isso, nesse meio tempo o cronograma também foi afetado. Quem passa em frente ao Grande Hotel pode ver, além dos tapumes, as placas que contêm as informações sobre a obra, como a previsão de entrega. Nela, a estimativa de finalização é para novembro de 2021. Há nove meses paralisada, contudo, a recuperação do prédio não tem previsão de retomada, segundo a Proplan da universidade.

"A universidade tem feito tudo possível para a obra não parar, tivemos que fazer vários movimentos no projeto. Uma obra como essa é bem complexa e durante a execução a gente vai descobrindo que o projeto precisa ser alterado em alguns momentos. Nós nos mantemos atentos para manter o projeto em execução. Mas tivemos certa resistência por parte do Iphan e trouxe uma lentidão. Como eles já não estavam mais repassando, a empresa paralisou as obras", relata o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Paulo Ferreira Jr.

Em busca de resolução

Conforme a UFPel, já foram entregues e analisados pelo Iphan documentos que incluem adaptações de projetos em função de algum problema para implantação no local, re-aprovações em órgãos devido ao tempo decorrido da aprovação e o início da execução, dentre outros. O pagamento para cobrir as novas despesas teria sido realizado em maio, mesmo assim as obras ainda não retornaram.

Ferreira explica que a universidade está pronta para retomar as intervenções, mas que ainda será necessário analisar outras tratativas. "O Iphan finalmente olhou os processos, repassou os recursos e nós já estamos prontos para retomar a obra, mas a empresa entende que ainda não tem as condições de garantia para retomar. Então estamos tentando junto com a empresa e o Iphan atender a demanda de todas as partes para retomar e concluir a obra", argumenta.

Sem previsões para o recomeço e com 35% da reforma está executada, em sua maioria na parte interna, o prédio que havia aberto esperanças de reabertura e movimentação, foi tomado novamente pelo silêncio e vazio já tão conhecido sem as obras. "Ter um hotel-escola em um local como aquele é muito importante para a cidade. A UFPel quer muito ver aquele prédio sendo ocupado pelas unidades acadêmicas e para as atividades de ensino, pesquisa e extensão que envolve as atividades de hotelaria", pondera Ferreira.

Sobre o projeto do hotel-escola

O Grande Hotel conta com 4.300 m² de área construída entre o subsolo e o terraço, em quatro pavimentos. O projeto do hotel que será laboratório para alunos da instituição inclui três salas de aulas, restaurante, café, 28 quartos, laboratório de gastronomia, laboratório de informática, sala de professores, secretaria, sala de coordenação, área de convivência, sala de projetos, sala para Diretório Acadêmico, guarda-volumes, sala de infraestrutura e sanitários.

Histórico

- A construção do Grande Hotel é datada entre 1925 e 1927.

- Em 2008 inicia reforma na fachada e na estrutura do prédio, interrompidas em seguida.

- Em 2011 a doação do prédio para a UFPel é aprovada pela Câmara de Vereadores.

- Em 2015 o projeto de restauração da estrutura é enviado ao Iphan, passando por adaptações técnicas nos dois anos seguintes.

- Em junho de 2019 o Iphan confirma os recursos necessários para a restauração.

- Em 2020 as obras são paralisadas por 40 dias, mas depois retomadas.

- Em dezembro de 2021 as intervenções param, ficando sem reinício até o momento.