Proposta
Rede de Atenção Básica de Pelotas mais abrangente
O desejo de milhares de usuários, atendimento digno nas UBSs, pode estar a caminho através do projeto de territorialização dos postos
Já está em construção o novo sistema de serviço de saúde primária que atende cerca de 74,5 mil pelotenses por mês nos bairros. Chamado de Territorialização da Atenção Básica, o programa pretende distribuir melhor as bases de atendimento, ampliando a abrangência das Unidades Básicas de Saúde (UBS) em 100% da área urbana. Para concretizar o projeto, que ainda será debatido com Conselho Municipal de Saúde e Poder Legislativo, algumas demandas antigas precisarão ser sanadas, com a presença fixa de médicos nos postos de saúde, atualmente com um déficit de 21 profissionais, disponibilizar estrutura moderna, estoque de material e de medicamentos, além de agilidade no atendimento, evitando assim situações com a da aposentada Maria Amália dos Santos Silveira que tenta desde o dia 6 de junho, data em que fez um ecocardiograma, mostrar o resultado para o clínico geral que atua na Guabiroba. "A culpa não é dele. As atendentes que não deixam eu entregar. Sugeriram até uma autorização para ir à UPA. Mas é o profissional que me assiste há tempos e sabe do meu histórico", lamentou ela, que estava com a pressão arterial alta e, mesmo assim, esperaria pelo profissional até a saída dele do posto. "É uma pouca vergonha."
Conforme a diretora da Atenção Primária do Município, Luciana Soares, o projeto prevê alteração do número de equipes nas unidades, conforme expectativa da população (definida pelo IBGE) residente naquela área. Pelo estudo, no momento não está previsto o fechamento de Unidades, e sim, a possibilidade de abertura de uma nova UBS, que como está em processo de análise, discussão e planejamento, e portanto, a SMS não informou onde será instalada. "Pelotas já tem uma divisão territorial, porém muitas áreas da cidade foram povoadas e ficaram sem cobertura territorial de Atenção Primária. Com essa nova proposta de divisão, toda a área urbana está contemplada no território de alguma unidade", afirmou.
Para chegar ao resultado, a SMS fez ampla análise nos últimos meses, envolvendo equipes de profissionais das UBSs, o Departamento de Planejamento Territorial (GeoPelotas), ligado à Secretaria de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana, além da diretoria de Atenção Primária em Saúde. Para os organizadores, será fundamental no planejamento das atividades que as ações ofertadas levem em conta o perfil epidemiológico, as faixas etárias mais prevalentes e as condições socioambientais do local. Além disso, as informações enviadas à Ouvidoria (que recebe através do telefone 156 as reclamações e sugestões de usuários) também serão levadas em conta, durante os debates.
Algumas dessas informações devem constar a de uma usuária da UBS da Guabiroba, que precisa de medicamento para tireoide e AS, ambos em falta há três meses. "Fora especialistas (médicos) que nunca tem. Só mesmo o clínico geral", disparou a paciente que não quis se identificar. A reclamação ganhou eco com o grupo de mulheres em frente ao posto. Outra já está apavorada que em setembro o profissional de saúde irá entrar em férias e teme ficar sem atendimento. Talvez por isso, a aposentada Marli Madeira Furtado, 65, com problemas pulmonares só conseguiu agendar consulta para o dia 28 de outubro, após passar pelo acolhimento.
Déficit de médicos
Sobre a defasagem de médicos, a diretora da Atenção Primária destacou que o Município está trabalhando em um projeto para melhorar o valor da hora paga ao médico e, assim, captar mais profissionais. Enquanto a questão não é resolvida, já entrou em prática o novo sistema de triagem que é o acolhimento. "Hoje, os usuários são acolhidos e classificados segundo o protocolo. Se a Unidade não tem médico no dia e o paciente necessita atendimento imediato, ele é encaminhado à UPA ou para outra UBS", explicou. O processo, na realidade, não funciona. Uma paciente da UBS do Arco-Íris, que informou só o primeiro nome, Susane, com receio de não ser bem atendida, disse que das vezes que buscou socorro no posto (antes da chegada da médica, há duas semanas) e não o teve, foi para outras unidades sem sucesso. "Estava com muitas dores nas costas e, nas três UBSs que procurei atendimento, disseram que não poderia consultar pois não era do bairro," relatou. Ela contou que conhece pessoas que informam outro endereço para garantir uma consulta.
O que diz o Conselho de Saúde
Para o presidente do Conselho Municipal de Saúde, César Lima, é importante saber a real situação das áreas que estão descobertas, apesar de o momento atual chegar a ser angustiante devido à precariedade de atendimento das Unidades. "Mesmo que o acolhimento tenha vindo para que o usuário seja melhor atendido, ainda está em processo de evolução e com muitas falhas, mas servirá para se saber o tamanho real do problema." A aposentada por invalidez, Sandra Mara, 65, estava há mais de uma hora esperando o acolhimento na UBS Simões Lopes. Com pressão arterial alta e dificuldades para caminhar, contou que no dia anterior esteve em uma Unidade de Saúde no Centro, onde fez o teste da Covid-19, pelos sintomas que apresentava. Lá viram que a pressão estava alterada e a orientaram a ir no posto do seu bairro, para ter um atendimento específico. "Tô aqui esperando, Não sei por que tanta demora." Para o conselheiro, a territorialização será fundamental para ações futuras. "No momento temos que complementar os serviços em falta e a realidade nos diz e todos sabemos que passa por contratação de médicos e ajuste no acolhimento que, em alguns casos, tirou o usuário da fila da rua e foi transferido para fila de espera dentro da Unidade", avaliou Lima.
Finalmente
A chegada este mês de uma médica na UBS do Arco-Íris também representou significativa melhoria no atendimento, depois de ficar dois meses sem um profissional. "Ela é maravilhosa e tem que permanecer aqui", disse a confeiteira Caroline Latorres, 34. Ela conta que, até então, não tinha onde levar os filhos para consultar. "Agora com o sistema de acolhimento e a médica, ninguém fica sem atendimento", elogiou. O ponto positivo não exclui uma preocupação: com a melhora no atendimento, a estrutura precisa ser ampliada. "A região aumentou muito e aqui vem o pessoal do Liberdade, Arco Baleno, o pessoal da reserva, além da expansão do bairro", ressaltou Caroline. Essa demanda está incluída no projeto de territorialização.
Próximos passos
A próxima etapa do projeto será detalhar a iniciativa e ampliar os debates junto ao Conselho de Saúde e ao Poder Legislativo. O presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, Márcio Santos (PSDB), diz que como o projeto está em fase de construção, é cedo ainda para fazer alguma observação. Após a aprovação da nova territorialização, será definido um cronograma de implementação das mudanças propostas.
Unidades Básicas de Saúde em Pelotas
*48 UBSs
Duas são Unidades Básicas de Atendimento Imediato (Ubais) e ficam no Lindoia e no Navegantes
A UBS Navegantes terá sua gestão modificada nos próximos dias
Dez são administradas pelas universidades:
- Quatro da UFPel: Areal Leste, CSU Areal, Obelisco e Vila Municipal
- Seis da UCPel: Py Crespo, Fátima, Pestano, Sanga Funda, Areal 1, União de Bairros
Profissionais
77 médicos - com déficit de 21
90 enfermeiros
90 técnicos de Enfermagem
328 agentes comunitários de saúde
Usuários das UBSs
São realizados aproximadamente 74,5 mil atendimentos por mês na rede de Atenção Primária do Município
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