Alunos
Reitoria do IF-Sul é ocupada por estudantes
Ato foi anunciado em reunião do Conselho Superior da instituição federal; Movimento Estudantil também ocupa o Colégio Pelotense
Paulo Rossi -
Atualizada às 19h33min.
O prédio da Reitoria do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), na rua Gonçalves Chaves, está sob ocupação de alunos. O ato teve início, por volta das 13h40min, pouco mais de duas horas depois de desocuparem o Campus Pelotas, por determinação judicial. A segunda-feira também foi marcada pelo primeiro dia de greve dos trabalhadores do IFSul, por tempo indeterminado, e caminhada por ruas centrais de Pelotas. No Campus Visconde da Graça, o Campus CAVG, ficou oficialmente definido: está cancelado o início do ano letivo de 2016, previsto para esta segunda-feira (31). No Colégio Municipal Pelotense - também ocupado - o coro contra medidas do Governo Temer ganha novas vozes.
A segunda ocupação do IFSul, em Pelotas, foi anunciada por uma das líderes do movimento, ao final da leitura de carta aberta, diante de integrantes do Conselho Superior que se reuniam para avaliar a possibilidade de suspensão do calendário eleitoral que, pelo cronograma, deveria se encerrar em 5 de dezembro. A partir daí, o processo foi rápido. Divididos entre escadas e elevador, os jovens se espalharam por diferentes andares. E, ligeiro, se organizaram em grupos. Enquanto uns lanchavam, outros tratavam de dar início ao recolhimento de lixo e à limpeza do chão; marcado pelos calçados que pisoteavam a água das várias garrafas que buscavam espantar o calor de 29ºC. Em poucos minutos, uma corrente na porta e cartazes e faixa nos vidros do saguão confirmavam a manifestação. Em seguida, também, os servidores passaram a deixar o prédio.
Única voz
Os estudantes do IFSul cumpriram a determinação judicial exatamente, às 11h36min, quando desocuparam o prédio - na praça 20 de Setembro - de mãos dadas. Do lado de fora, professores e técnico-administrativos da própria instituição e também da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), da rede estadual de ensino e representantes dos municipários engrossavam um mesmo grito de apoio. Com maquiagem, bocas tapadas e até algema, os estudantes garantiram: "Não seremos silenciados. A luta está recém-começando".
>>> Confira uma galeria de fotos desta segunda-feira
Foi um recado repetido, em diferentes palavras de ordem, ao longo de todo o trajeto, quando aproveitaram para panfletar mais uma vez. Um dos pontos altos foi na rua Marcílio Dias, em frente ao Colégio Pelotense. Em jogral, os alunos do IF destacaram o movimento de resistência e festejaram ao acompanhar os secundaristas do Gato Pelado saírem para marquise para prestigiar o manifesto e trocar palavras de incentivo.
A marcha seguiu até a Reitoria do Instituto Federal Sul-rio-grandense, onde os estudantes negociaram a possibilidade de ser ouvidos e acabaram por anunciar a nova ocupação.
A posição do IFSul
No início da noite desta segunda, uma nota de esclarecimento foi publicada no site do Instituto. Confira um dos principais trechos:
"... Com a ocupação da Reitoria e dos demais campus (Bagé, Camaquã, Charqueadas e Sapucaia do Sul), o instituto reafirma a sua postura de diálogo e proximidade com os estudantes, a fim de realizar as negociações da melhor forma possível, priorizando a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos, bem como o bom uso do espaço público. Entre os principais objetivos das negociações realizadas com estudantes está a manutenção dos serviços essenciais do IFSul durante o período de ocupação para reduzir os impactos pedagógicos e administrativos da ação.
Além disso, assim como já vem ocorrendo, o instituto seguirá em conversa com os estudantes na tentativa de liberar o acesso a locais ocupados. Para isso, as ações do IFSul nas negociações serão pautadas pelo respeito mútuo e pela busca da solução que melhor atenda aos anseios de todos os membros da sua comunidade."
Confira outros desdobramentos da segunda-feira
Ocupação chega ao Colégio Pelotense
As críticas à Reforma do Ensino Médio e à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 - que agora será apreciada pelo Senado - estão afixadas por portas e janelas. Ao conversarem com o Diário Popular, sem se identificar, na manhã de segunda, estudantes do Colégio Pelotense reiteraram: a ocupação é instrumento de protesto pelas medidas do governo de Michel Temer (PMDB). E, antes de encerrar, destacaram o protagonismo de secundaristas Brasil afora.
O diretor Arthur Katrein também assegurou: "Tenciono dentro do limite do diálogo. Estou aqui, principalmente, para que não haja violência de nenhuma forma contra os alunos; nem psicológica". E como professor de História, lotado no Pelotense há duas décadas, logo, defende: "A ocupação é um ato pedagógico, que vai ficar também para a história da escola. O fato de eles buscarem decisões coletivamente e tomar atitudes é um processo educativo".
Palavra da prefeitura
O procurador-geral do município, Fábio Machado, afirma que o Executivo buscará, primeiro, o diálogo com os estudantes. Caso as tratativas não surtam efeito, aí, sim, será adotado o caminho judicial. "Nos cabe a defesa do patrimônio e a preservação do interesse coletivo, mas vamos primeiro tentar conversar com os alunos." Com as portas cerradas, em torno de três mil estudantes ficam sem aulas no Pelotense.
E o Enem, como fica?
Um porta-voz do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) irá se pronunciar nesta terça-feira (1º), em entrevista coletiva, a partir das 15h. Informações extraoficiais, entretanto, indicam que os candidatos que realizariam o Exame Nacional do Ensino Médio em prédios que estão sob ocupação deverão fazer as provas em outra data. Logisticamente e por questões de segurança e entrega de malotes, seria mais simples decidir pelo reagendamento do que definir novos locais, às vésperas do Enem. As provas ocorrem neste final de semana em todo o país.
Volta às aulas cancelada no CAVG
Agora é oficial: está cancelada a volta às aulas no Campus Visconde da Graça (CAVG). Não será desta vez que os cerca de 1,1 mil estudantes - do formato presencial - darão início ao ano letivo de 2016, previsto para esta segunda-feira. A direção geral irá consultar o Comitê de Ética sobre a necessidade de alguns setores e serviços essenciais do Campus continuarem em atividade, como a área de produção agropecuária, pesquisa e extensão. Com técnico-administrativos e professores do IFSul e da UFPel em greve, o entendimento foi de que o trabalho ficaria totalmente comprometido; ainda que uma parte dos profissionais eventualmente não aderisse ao movimento - explica o diretor de Ensino, Amauri Costa.
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