A Santa Casa de Misericórdia de Pelotas inaugura no próximo mês um centro clínico que vai disponibilizar consultas a preços acessíveis, de várias especialidades. A iniciativa, juntamente com a renegociação de empréstimos e a venda de alguns imóveis, tem por finalidade aumentar a arrecadação do hospital para reverter o atual cenário financeiro. A instituição completa nesta terça-feira (20) 170 anos de atividades, sendo a mais antiga assistencial e hospitalar em funcionamento na cidade.

Para o coordenador regional de Saúde, Gabriel Andina, a Santa Casa é um patrimônio não apenas de Pelotas, mas do Estado, principalmente de toda a região. “Não é possível pensar em um Sistema Único no Rio Grande do Sul sem a grande contribuição dessa instituição”, pontua. Para a médica Rosângela Soares, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Santa Casa é de suma importância por ser referência em traumatologia e partos de baixo risco, e por possuir alta complexidade em neurologia, nefrologia, cardiologia, Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Cardiológica, pediatria, duas UTIs e leitos clínicos para atendimentos a pacientes de Pelotas e da Zona Sul.

O hospital atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as especialidades e enfrenta, como os demais, a defasagem nas tabelas de procedimentos, uma delas sem ser reajustada há 21 anos e a outra há 14, relata o provedor Lauro Ferreira de Melo. Médicos obstetras, clínicos e pediatras recebem R$ 2,40 a hora do SUS e as demais especialidades, R$ 10,00. O repasse de exames de raios X é de R$ 18,00.

Enfrenta ainda um déficit mensal de R$ 1,1 milhão e a perspectiva é de chegar até o final do ano com R$ 13 milhões no vermelho. A expectativa do provedor, com a abertura do centro clínico, assim como as demais medidas anunciadas, é de obter R$ 10 milhões para mudar esse cenário. O hospital é proprietário de prédios (oito ou nove), mas não pode vender ou penhorar alguns, como é o caso do que utiliza e da área cedida para o Hospital-Escola (HE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Alguns já foram vendidos e outros devem ser este ano. Todos herdados de pessoas que não tinham família ou que optaram por destinar o patrimônio ao hospital filantrópico. Tem, inclusive, uma área grande em Herval, arrendada para produção de arroz e soja, e pecuária, relata Melo. O provedor salienta que o momento é de união e soma de esforços para melhorar a situação, já que o hospital começa a ter dificuldade também para pagar 100% dos honorários médicos até o quinto dia útil de cada mês. A intenção é de tentar recuperar a situação em seis meses. Uma frente é criada, com prefeitos da região, para pressionar o governo federal a aumentar os valores das tabelas de procedimentos do SUS.

Sessão solene
A Câmara de Vereadores realizaria sessão solene em homenagem aos 170 anos da Santa Casa na segunda-feira, proposta pelo vereador Marcos Ferreira, o Marcola (PT), mas o presidente Luiz Henrique Viana (PSDB) não conseguiu quórum nas duas tentativas de abrir os trabalhos. A entrega da placa ao provedor do hospital, de reconhecimento pelos serviços prestados, ocorreu na sala da presidência, com a presença dos vereadores Viana, Marcola, Daniel Trzeciak (PSDB), Antônio Peres (PSB) e Enéias Clarindo (PSDB). Os demais estavam em outras audiências ou justificaram compromissos.

Números
Atendimentos prestados: 36 mil ao ano pelo SUS e 42 mil no geral
Principais serviços e referência em: traumatologia, oncologia, neurologia, nefrologia e cardiologia
Leitos: 200 SUS e 106 particulares
Total de funcionários: 1.077