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Sem ônibus, trabalhadores noturnos arcam com despesa extra de transporte
Moradores do Obelisco e Passo do Salso já pediram para trocar de turno pela falta de ônibus à noite
Carlos Queiroz -
Quem trabalha à noite e depende de transporte público está tendo que arcar com uma despesa extra em Pelotas. Neste período que sucede a fase mais crítica da pandemia, com as atividades noturnas tendo maior movimento, os horários do coletivos, reduzidos na fase de isolamento social, agora começam a fazer falta para os trabalhadores.
O problema tem atingido especialmente aqueles que atuam em restaurantes, lanchonetes e bares. Proprietários relatam terem deixado de contratar, inclusive com candidato desistindo ao saber que o horário de saída do serviço passaria das 23h. Outros funcionários, para não perderem o emprego, pedem para trocar o turno, já que parte considerável do salário estaria sendo usada no pagamento de transporte por aplicativo devido à falta dos coletivos.
Foi o caso da atendente do restaurante Café.com, no Centro da cidade, Calisni Oliveira Guerreiro, 18. Moradora do Passo do Salso, no bairro Fragata, tem à disposição como último ônibus para o local o das 23h30min. Pela tabela de horários no site da Prati, do Consórcio de Transporte Coletivo de Pelotas (CTCP), este ônibus não opera mais, sendo que o transporte Centro-bairro, chamado Corujão, tem como horário padrão 22h40min. O coletivo passa pelo Fragata, Guabiroba, Ciep, Gotuzzo e Cohab, até o Passo, via Colégio Pelotense e rua Marcílio Dias.
Moradora do Obelisco, a auxiliar de cozinha Bruna Cavalheiro Macedo, 21, que trabalha no mesmo estabelecimento de Calisni, também diz ter precisado trocar o turno. “Às vezes saio depois da meia-noite e a última vez que embarquei no das 23h10min o cobrador avisou que esse horário iria terminar”, relara. Na tabela do CTCP, ele ainda aparece.
Proprietários do restaurante que Calisni e Bruna trabalham, Alex e Claudia Martins dizer já ter deixado de contratar atendentes por causa do deslocamento até o Centro. Ambos consideram que, devido ao maior movimento em bares da cidade, seria preciso uma reavaliação ou readequação dos horários, como aumentar os itinerários após a meia-noite. Opinião semelhante à do proprietário do bar e restaurante João Gilberto, João Lopes. Segundo ele, cinco de seus funcionários passam por essa situação e acabam dividindo o valor do transporte por aplicativo para não ficarem no prejuízo. “Antes temiam pela segurança, por esperar horas pelo ônibus. Agora não tem ônibus”, reclama. A maioria dos profissionais do local que dependem do transporte público mora no bairro Três Vendas.
SMTT diz que horários dependem da demanda
A Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) confirma que os horários à noite, aos domingos e feriados são mais espaçados. A pasta diz que em diversas situações implantou horários a pedidos dos usuários, mas que a adesão teria sido baixa, com pouca procura, o que não justificaria a continuidade daquele itinerário. No Areal, a linha das 23h30min sentido Centro-bairro foi cancelada. “Para se ter ideia da baixa procura, a linha Corujão Areal, com saída do Centro às 23h05min, por exemplo, entre os dias 1º e 14 de abril, transportou 29 passageiros em todo este período”, alega a SMTT, através de nota. Entre as linhas atendidas, está o Areal Circular, que sai do Centro a cada 45 minutos durante a semana, a partir das 20h20min (Bom Jesus Direita) até 23h10min (Areal, Obelisco e Bom Jesus).
Usuária da linha Navegantes-Cohabpel, uma cuidadora de idosos, que prefere não se identificar, afirma já ter enfrentado a falta de transporte coletivo após terminar seu turno em um sábado após as 20h. “Uma passageira me disse que o último transporte coletivo para o bairro é 19h, diferentemente do que consta na planilha da Prati”, aponta. Neste caso específico, a SMTT diz que a última linha noturna atualmente sai do Centro às 22h20min durante a semana. Para este bairro, aos sábados, o último horário com saída do Centro é às 20h20min. Caso haja alteração, a orientação é que o usuário faça denúncia à secretaria para apuração do motivo.
Conforme a SMTT, há fiscalização do cumprimento dos horários divulgados pelo CTCP e, quando verificado o descumprimento, é feita notificação. Já o Consórcio garante que todos os horários são cumpridos e que conta com o Centro de Controle Operacional, onde são registradas as passagens dos veículos pelos itinerários nos horários estipulados. Sobre a demanda noturna, o gerente do CTCP, Enoc Guimarães, cobra dos estabelecimentos que sejam mais específicos quanto aos dias e horários de movimentação à noite.
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