Meio ambiente

Termelétricas de Candiota entre as mais poluentes

Estudo do IEMA aponta Pampa Sul e Candiota III como as unidades menos eficientes e com maior taxa de emissão de gases de efeito estufa

Um estudo feito pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE) coloca em alerta a geração de energia produzida pelas termelétricas de Candiota, na região de Campanha do Rio Grande do Sul. Embora sejam usinas mais modernas, as duas foram consideradas menos eficientes na produção de energia, conforme dados inéditos do Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas da IEMA, com base no ano de 2020. Ambas também estão na lista entre as que mais emitem gases.

Pelo ranking de eficiência de geração de eletricidade por usina termelétrica, conforme a pesquisa, das que usam carvão de combustível, a Pampa Sul e a Candiota III atingiram índices mais baixos de produção, com 26,6% e 27,4%, respectivamente. De acordo com os responsáveis pelo estudo, o pesquisador Felipe Barcellos e a co-autora Raissa Gomes, pelos dados, ambas precisam de mais combustível para gerar eletricidade e, com isso, se destacaram negativamente com as maiores taxas de emissão de gases de efeito estufa por gigawatts por hora (GWh), em 2020, seguidas pelas plantas do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina, ocupando da quarta à sétima colocação na lista. Os dados, no entanto, são questionados por CGT Eletrosul e Engie Energia Brasil.

“A concentração em poucas plantas fica ainda mais evidente ao se constatar que a geração termelétrica proveniente das oito usinas movidas a carvão mineral, como combustível principal, foi de 10,8 terawatts (TWh), o equivalente a 20% do total da produção de eletricidade fóssil em 2020, que foi de 54,1 TWh”, alerta Barcellos. Segundo o pesquisador, as dez termelétricas que mais emitem GEE, seis delas a carvão, foram responsáveis por quase metade (49%) do dióxido de carbono (CO2) contabilizado no inventário. O estudo destaca ainda que a concentração da geração, e por consequência de emissões, é de responsabilidade de poucas empresas: 91% de tudo o que foi emitido no Subsistema Sul (11 milhões de toneladas de GEE) foi atribuído a apenas duas empresas: Engie (72%) e Eletrosul (19%).

Em coletiva realizada pelo IEMA, os responsáveis pelo estudo explicam que tiveram bastante dificuldade em conseguir os dados, principalmente em relação ao setor de meio ambiente das usinas, e por isso precisaram garimpar informações em órgãos públicos, sendo que a maioria foi encontrada no site do Ibama.
“Isso pode alterar a configuração dos resultados, uma vez que as empresas devem se manifestar a respeito dos mesmos”, diz o diretor-presidente André Ferreira, que participou da entrevista online. Ele considera que a sociedade merece ter mais transparência quanto aos dados sobre a produção de energia elétrica no país, até porque, em duas décadas, o crescimento da geração de eletricidade por termelétricas movidas a combustíveis fósseis aumentou 177%, ou seja, de 30,6 TWh em 2000, para 84,4 TWh, em 2020, gerando 90% a mais de emissão de GEE.

O que diz a CGT Eletrosul
A CGT Eletrosul informa que desconhece o método de cálculo utilizado para as estimativas de gases de efeito estufa e ressalta que a Termelétrica Candiota III busca continuamente melhorar o desempenho de seu processo industrial alinhado a metas de redução de emissão de GEE. Adicionalmente, a CGT Eletrosul esclarece que a eficiência da usina, conforme relatório preliminar da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em 2020, foi de 34,69%, validada pela Aneel nos termos da Resolução Normativa 801/2017.

Atualmente, a UTE Candiota III utiliza prioritariamente carvão beneficiado, com significativos ganhos ambientais e de desempenho. No ano de 2020, as emissões totais da termelétrica foram de 1.278.445 toneladas de dióxido de carbono equivalente (TCO2e). Além disso, a usina é equipada com queimadores de baixo óxido de nitrogênio (NOx), atendendo o limite de emissão estabelecido em sua licença ambiental. A partir de março de 2020, a CGT Eletrosul iniciou a operação da Planta de Beneficiamento de Carvão Mineral a Seco, com o objetivo de melhorar a qualidade do combustível principal, obtendo ganho de desempenho e eficiência, e com menores emissões de GEE. Sobre a transparência de dados, a empresa garante que publica anualmente o Inventário com valores correspondentes a cada empresa subsidiária, incluindo as UTEs próprias.

O que diz a Engie
A Engie Brasil Energia diz estar direcionada a acelerar a transição energética a partir de fontes fósseis por renováveis, sendo que os investimentos feitos nos últimos anos apontariam crescimento de 34% em geração renovável, aumentando em 17% sua capacidade instalada própria. O parque gerador da companhia tem 8.440,9 MW de capacidade instalada própria e a participação dessas fontes cresceu de 86,2%, em 2020, para 96%. Sobre a pesquisa da IEMA, a Engie diz que a empresa dá total transparência aos dados de emissões de GEE e eficiência de suas usinas ao mercado, anualmente, em seu Relatório de Sustentabilidade.

Em 2020, a Pampa Sul registrou eficiência energética média de 35,2%, com consumo específico de 0,89 toneladas de carvão por MW. Em 2021, a eficiência subiu 0,2 pontos percentuais. “Assim, parece necessário uma análise mais aprofundada do estudo para entender qual metodologia matemática foi utilizada para se chegar aos dados relatados, que não condizem com o apurado pela Companhia”, diz a empresa.

Venda da Pampa Sul
A empresa confirma a venda da usina Pampa Sul – única usina a carvão remanescente no portfólio – para o final do ano e reforça que a decisão da saída dos ativos a carvão segue como pilar importante, sendo que os negócios são conduzidos de forma a possibilitar transição gradual e justa para a economia das regiões – reduzindo impactos socioeconômicos que poderiam ser gerados pela descontinuidade abrupta das operações.

Futuro
Segundo o relatório da IEMA, em 2021 foi notável a expansão da geração fóssil em comparação a 2020 – cerca de 77%. Essa expressiva elevação ocorreu para todos os combustíveis, sendo que, em termos absolutos, usinas movidas a gás natural foram as que mais contribuíram com o aumento (variação positiva de 27,6 TWh). Dois são os fatores apontados pelos pesquisadores: a recuperação parcial das atividades econômicas após o período mais crítico da pandemia de Covid-19, o que aumentou a demanda por eletricidade no país, e, principalmente, a crise hídrica do ano passado, que fez com que a geração via hidrelétricas fosse prejudicada de maneira relevante.

Questionado sobre o futuro das usinas termelétricas e quais as alternativas para redução da emissão GEE, André Ferreira diz que os contratos das empresas são de longo prazo. Então, se a ideia é substituir esse tipo de combustível, que se faça de forma consciente, para avaliar as consequências. “Não é necessário estender a geração de energia por combustível fóssil, pois fontes renováveis, como a solar e eólica, estão ficando mais baratas e a chave para garantir a produção seria o armazenamento”, lembra.
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