Legado

Um espírito humanizado

No cinquentenário da morte do padre Reinaldo Wiest, o Santo da campanha ainda é lembrado com carinho na Colônia Maciel, em Pelotas, e em Piratini

Carlos Queiroz -

Em meio à natureza da pacata Colônia Maciel, no 8º distrito de Pelotas, um nome ainda é sinônimo de bondade e simplicidade, mesmo 50 anos após a sua morte. A memória do padre Reinaldo Wiest, que por nove anos foi o sacerdote da Paróquia Santa’Ana, segue viva entre os moradores que guardam com carinho as fotos do bom padre e creditam a ele inúmeras bênçãos e graças atendidas ao longo dos anos.

No pequeno cemitério, flores, velas e santos enfeitam seu túmulo, especialmente nessa época do ano, próxima à data de sua morte. Em 27 de janeiro de 1967 o padre Reinaldo passou mal enquanto se preparava para rezar uma missa e foi levado ao Hospital de Canguçu, onde faleceu por causa de insuficiência cardíaca. Seu funeral precisou ser realizado fora da igreja, devido ao grande número de pessoas que foram prestar homenagens ao vigário. Entre elas não se encontravam apenas católicos. Registros da época apontam que 40% dos presentes eram protestantes, mostrando quão grande era a influência do padre na vida da comunidade, que por muitos é chamado de santo da campanha.

A sepultura de padre Reinaldo é a mais visitada, especialmente pelos mais idosos, e nela se encontram placas de agradecimentos a pedidos atendidos. Em tempos de estiagem, é a ele que os agricultores recorrem pedindo por chuva, os doentes oram pela sabedoria dos médicos e pela cura de seus males, e a maioria da comunidade pede por proteção.

Os grupos de oração criados por Wiest ainda se reúnem, e para o povo, o homem que dava suas roupas aos necessitados, que deixava de comer se alguém estivesse passando fome e dormia ao relento quando não tinha pouso, é milagroso.

Santo Anjo da Guarda
Em suas andanças pelo interior, o padre Reinaldo rezava as missas onde houvesse alguém que o escutasse. Na Colônia Maciel, um antigo galpão por muitos anos serviu de abrigo aos fiéis que vinham à procura do sermão. Com o passar do tempo, o espaço ficou pequeno para comportar toda a comunidade, então sete famílias decidiram construir uma capela.

O padre ficou muito contente com a iniciativa da comunidade, mas tinha uma condição para a construção do prédio: a porta da capela deveria estar voltada para um cerro, em direção ao norte. O pedido foi prontamente atendido, e cada família doou algum dos materiais para que se erguessem as paredes e a torre, numa demonstração do verdadeiro significado de comunidade.

A construção se iniciou em 2 de outubro de 1964, porém, a Capela Santo Anjo da Guarda - nome escolhido pelo padre - só recebeu sua primeira missa dois anos mais tarde, em 9 de outubro de 1966, pois as famílias passaram por momentos de dificuldade financeira, e não puderam arcar com as despesas. Em sua inauguração, o piso da capela ainda era de chão batido, o que não espantou a população, que compareceu em peso ao novo santuário, fruto do poder de mobilização do padre Reinaldo.

A família Novelini foi quem cedeu o terreno à Capela Santo Anjo da Guarda, e 50 anos depois de inaugurada, os descendentes continuam devotos do padre Reinaldo, um grande amigo, sendo os guardiões das chaves do prédio e das histórias de Wiest. A matriarca da família, Teresinha Camelato Novelini, 76, conta que o padre chegava sempre em seu cavalo branco, com um palheiro entre os dedos, e costumava fazer algumas refeições e pousar nas casas da região, onde era muito bem recebido por todos os vizinhos. “Até mesmo quem não era católico gostava dele”, afirma ela, que lembra do padre também como fluente em alemão, na época a língua predominante entre os devotos do protestantismo - luteranos e anglicanos.

Das inúmeras missas em que esteve presente, Teresinha destaca o vocabulário descomplicado que o padre adotava, dando preferência ao fácil entendimento dos sermões pela comunidade. Quanto ao vestuário, porém, o sacerdote seguia a risca o que era pregado pela igreja: aos roupas deviam ser sóbrias e o decoro mantido durante as celebrações.

Entre os Novelini, é à fé e ao padre que recorrem nos momentos difíceis, seja pela saúde de amigos e familiares ou por uma boa colheita. O pior deles foi quando o patriarca e grande amigo de Wiest, Osmar Novelini, sofreu uma isquemia e um AVC, há cinco anos. Os médicos desacreditavam que ele fosse retornar para a casa, mas depois de 72 dias internado, e muitas rezas ao amigo padre, ele recebeu alta e voltou à companhia da esposa e dos filhos.

Vida na Capital Farroupilha
Em Piratini, onde atuou de 1935 à 1958, recordações do padre Reinaldo Wiest continuam presentes. O vigário que, em um ato inicialmente visto com estranheza pelos piratinenses, implantou uma horta ao redor da igreja para alimentar os pobres, hoje dá nome a uma comunidade católica, um Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e um bairro.

Na Paróquia Nossa Senhora da Conceição há cinco anos se encontram suas relíquias, em uma sala especial, que todas as quartas-feiras recebe grupos de devotos que rezam o terço, pedindo bênçãos e agradecendo as graças atendidas. As promessas e os pedidos ao padre também são feitos em quase todas as missas, preservando a fé no santo da campanha.

Quem foi
Reinaldo Wiest nasceu no dia 13 de julho de 1907 em Morro Reuter, Dois Irmãos. Comemora-se em 2017 os 110 anos de seu nascimento.

Seus pais, Felipe Wiest e Carolina Kieling, tiveram 15 filhos. O padre Reinaldo era o 11º, e outros dois irmãos também seguiram a vida religiosa. Cláudio foi vigário e Teresa ingressou na Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.

Reinaldo foi educado por padres jesuítas durante a adolescência. Foram eles que o encaminharam para o seminário e, posteriormente, sacerdócio. Como forma de agradecer, todos os anos reservava parte da pouca gratificação que recebia para ajudar algum novo seminarista da Companhia de Jesus.

Na escola ele costumava repartir a merenda com os colegas, a ponto de não sobrar nada para si. Certo dia um deles perguntou: - Mas Reinaldo, não sobra nada para ti? Ele respondeu: - Que importa? O importante é vocês terem o suficiente.

Wiest tinha como hábito chamar de “xinuca” todos aqueles que não conhecia pelo nome e entrar nas casas gritando: “Tem mate pro vigário”.

Fonte: Livro O Vigário da Campanha, Padre Reinaldo Wiest (Educat, autor: Carlos Johannes)

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