Natureza
Um Taim maior e mais preservado
Estação ecológica localizada na Zona Sul, reconhecida mundialmente como uma das áreas de banhado mais importantes, terá sua área triplicada
Paulo Rossi -
Já aguarda publicação o decreto que colocará o Taim em um patamar ainda mais importante para a conservação da biodiversidade. Atualmente com 10,7 mil hectares de ambiente preservado, mas parte de um paraíso ecológico com o triplo desse tamanho, a Estação Ecológica (Esec) deverá nos próximos dias ser autorizada a ampliar sua área, abrangendo todos os 32,8 mil hectares do território entre os municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, declarados como área de utilidade pública desde 1978.
Resultado de um trabalho de cinco anos do Conselho Consultivo da Esec e que reuniu 21 instituições governamentais e da sociedade civil, o projeto foi apresentado em 2013 ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e aprovado este mês pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). A expectativa é que a oficialização da ampliação ocorra na próxima semana, já que restam apenas alguns ajustes no decreto para regulamentar as áreas da reserva por onde passam estradas e linhas de transmissão de energia.
Dos novos 22,1 mil hectares de terras alagadas que farão parte da reserva ambiental, 63% são áreas públicas e deverão ser anexadas imediatamente. O restante, oito mil hectares, são propriedades privadas. Como a maioria dos donos acompanharam o processo de elaboração da proposta de ampliação, o chefe da Esec afirma que não haverá dificuldade em incorporar estes territórios. “São em sua maior parte áreas de banhado, muito mais importantes para a preservação da biodiversidade do que para a produção”, destaca Henrique Ilha.
Serão usados dois mecanismos para que estes oito mil hectares privados se integrem à estação ambiental: a desapropriação (com pagamento aos donos) ou a cessão de áreas de banhado privadas para a Esec, com os proprietários sendo liberados de manter uma reserva legal em suas terras, conforme exige o Código Florestal Brasileiro.
Conforme Ilha, essa anexação das novas áreas corrige a redução da unidade ocorrida em 1986, quando um decreto criou a Estação Ecológica do Taim. “À época foram deixadas de fora tanto propriedades da União quanto extensas áreas adquiridas pelo Ibama na época.”
Preservação aliada à produção sustentável
Um dos motivos que leva Ilha a celebrar a abrangência muito maior do Taim, além da óbvia conservação de todo o ecossistema, é a possibilidade de melhorar a capacidade de resposta da Esec em casos de eventos como o incêndio ocorrido em 2013, que levou nove dias para ser controlado e queimou 4,8 mil hectares.
Destes, 2,3 mil foram em áreas externas à estação. A ideia apontada no Plano de Manejo é que se tenha ao lado da unidade uma pista de pouso com água acessível para casos como esses, em que a reação precisa ser imediata para evitar danos ao ambiente e a morte de animais.
Recentemente, no Dia Mundial da Água, a estação foi oficialmente reconhecida como uma das Zonas Úmidas de Importância Internacional pela Convenção de Ramsar. Além da relevância ainda maior para a biodiversidade do planeta, Ilha aponta este como um marco para a obtenção de apoio internacional para pesquisas e acesso a fundos de financiamento a projetos. “Isso irá viabilizar que as desapropriações e indenizações possam ser feitas com mais agilidade. Mas, sobretudo, dará fôlego aos nossos esforços para que a região do Taim desenvolva atividades produtivas cada vez mais sustentáveis”, explica.
Em parceria com a Embrapa e a Emater, a Esec Taim está desenvolvendo ações de estímulo aos pecuaristas da região para que criem gado com baixo impacto ambiental e alta produtividade. O trabalho ainda está em fase inicial, porém os pesquisadores vislumbram que em um futuro breve seja possível usar o Taim como uma certificação de qualidade. “Queremos avançar até que o produto da região seja visto como de qualidade e comprometimento ambiental, o que garantirá valor agregado e geração de emprego e renda”, projeta o chefe da Esec.
Oásis da preservação
Declarado área de interesse público em 1978, o Taim transformou-se em uma estação ecológica em junho de 1986, com o objetivo de se tornar um oásis de conservação de um dos ecossistemas mais ricos do planeta.
Em seu território entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico, possui uma paisagem composta por banhados e lagoas, campos, dunas e matas, e abrigando uma grande diversidade de espécies de vegetais e animais. São mais de 200 tipos diferentes de plantas, 220 espécies de aves, 21 répteis, 8 anfíbios, 51 peixes, 28 mamíferos, além de crustáceos, moluscos e insetos.
Dentre os animais característicos, estão aves como o joão-de-barro, biguá, tachã, maçarico-preto, ximango, martim-pescador e marrecão. Tartarugas, capivaras, ratões-do-banhado e jacarés-de-papo-amarelo também são moradores do Taim.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário