Meu malvado favorito 3 foi o filme escolhido para a primeira Sessão Azul, que a Associação de Amigos, Mães, Pais, Autistas e Relacionados com Enfoque Holístico (Amparho), em parceria com o Cineart, realizou em Pelotas. A ação ocorreu na sala 1 do calçadão da Andrade Neves, às 14h deste sábado (22).

A iniciativa foi ao encontro de uma das antigas solicitações dos pais. A vice-presidente da associação, Karin Rosana Scheer, explica que muitas destas crianças não conseguem ficar em uma sessão normal de cinema porque o barulho é muito alto ou porque a sala fica muito escura. “Muitos deles têm medo do escuro. Outros têm sensibilidade ao barulho.”

Por estes motivos, a sessão foi organizada com algumas especificações apropriadas ao público-alvo. Durante a exibição do filme, a sala permaneceu com as luzes acesas, cortina aberta e o volume do som foi reduzido. As crianças também ficaram à vontade para caminharem pela sala, balançarem-se nas cadeiras ou interagirem com a movimentação da tela do jeito delas.

Encontro de amigos
Para a sessão especialmente organizada para os autistas foram vendidos 110 ingressos, ou seja, lotação máxima da sala - restaram apenas cinco a pedido da administração do Cineart por motivos de segurança. Para quem esteve presente, o apoio dos familiares à iniciativa demonstrou a necessidade de mais ações inclusivas como esta.

Karin Rosana é mãe de um menino autista de 15 anos, o Pedro Henrique. “O meu hoje [sábado) não está aqui porque ele é um dos que têm condições de ir a uma sessão normal, ele suporta que a luz esteja desligada, ele suporta o barulho mais alto, mas a maioria não”, falou ao explicar o porquê de deixar a vaga dele para outra criança.

A dona de casa Luciana da Silva Lemos, 45, levou o filho Davi Lemos Silva, de oito anos. Davi está no segundo ano do Ensino Fundamental e já assistiu a um filme em condições propícias para ele, na escola. “Ele tá ansioso, mas é ótimo para ele estar com os amigos”, disse.

A atendente Raquel Albuquerque, 35, também estava feliz com a iniciativa. Mãe de Enrique, 9, aluno do quarto ano da escola Afonso Viseu, Raquel diz que o filho já tinha ido ao cinema na escola. “Foi tranquilo, mas resolvi trazer para ver como se porta e também para ficar com os amigos do Centro de Atendimento ao Autista. A expectativa dele é grande”, contou.

É uma chance de incluir numa atividade que eles não poderiam participar. Teve luz ligada, som mais baixo e podem levantar da cadeira, sacudir, se balançar. Tem toda a questão do preconceito.

Novos pleitos
A Amparho existe desde 2008 e há três anos conseguiu verba de R$ 300 mil do programa estadual de Participação Popular e Cidadã para a abertura do Centro de Atendimento ao Autista Doutor Danilo Rolim de Moura, administrado pela prefeitura.

O Centro de Atendimento se tornou referência estadual no auxílio a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O espaço atende 280 usuários entre um e 35 anos, segundo a prefeitura. De acordo com a Amparho, há uma lista de espera com 260 nomes. O que faz a Associação levantar um número de mais de 500 jovens autistas no município.

Os integrantes da Amparho se reúnem toda a primeira segunda-feira de cada mês em uma sala da Casa dos Conselhos. O próximo encontro ocorrerá dia 7 de agosto, às 14h. Segundo Karin é importante a presença dos familiares e amigos nestes encontros para que as atividades da Associação sejam cada vez mais fortalecidas. “Também estamos sempre abertos a novos integrantes.”

Entre os novos pleitos da entidade está a ampliação do Centro de Atendimento e a construção de um espaço de convivência para jovens e adultos. A vice-presidente da Amparho externa uma grande preocupação com autistas que já passaram da adolescência. “Temos muitos adultos que não estão fazendo nada. Eles precisam de um espaço para conviver e alguns deles sequer foram alfabetizados.”