Opinião

A gente se acostuma

Por Evoti Leal
Barbeiro e escritor

Gosto muito de exaltar as coisas positivas. Mas também tenho olhos para ver as coisas não tão positivas com que me deparo nos lugares onde ando.

Dias atrás, conversando com um rio-grandino que esteve por aqui em visita a familiares, falávamos sobre alguns aspectos negativos das duas cidades vizinhas. Ele, que mora há seis anos em Indaiatuba, tendo morado outros 35 anos em Marília, ambas no estado de São Paulo, disse-me algo que me deixou deveras reflexivo. Não me pareceu fosse apenas uma frase de efeito, mas, com efeito, foi de um realismo tão pujante, que não pude deixar de ficar pensando no que ele disse, pelas 48 horas seguintes da nossa conversação.

A frase foi esta: "As pessoas acabam se acostumando e aceitando como normal!"

Ele me contava de uma rua existente na Praia do Cassino, a qual tem um trecho não pavimentado, onde há muito tempo se formou um buraco, segundo um morador local, que faz com que o trânsito de veículos seja desviado por outras vias, contornando aquele obstáculo, para se chegar às casas que ficam do outro lado do mesmo.

Por minha vez, comentei sobre o que aqui encontrei, por quase toda a região portuária e parte da central, que me impactou deveras. Querem saber do que estou falando?

Do mato que cresce livre junto às calçadas, em cima e embaixo do meio fio, e até junto às paredes de muitas construções de alvenaria. Diversas espécies de ervas não medicinais e plantas não florescentes. Mato puro, mesmo. E ninguém parece incomodar-se com isso! Inclusive bem na frente de muitas lojas comerciais.

Eu juro que não tenho nada contra a atual administração municipal, ideologicamente falando.

Aliás, só pra constar, a fim de evitar conflitos com amigos, tomei a decisão de afastar-me totalmente dos embates político-partidários e ideológicos.

Enfim, como disse esse amigo e familiar nosso, com a sabedoria de quem vive numa outra realidade: "a gente se acostuma"...

Vou "confidenciar" uma atitude que tomei, logo nos primeiros dias de estabelecido na nova moradia: comprei umas luvas para limpeza doméstica e arranquei parte do matagal que enfeava a quadra inteira. Limpei as frentes de duas casas à direita e duas à esquerda da minha, além das de algumas do outro lado da rua. Pronto, falei.

Ninguém viu, porque o fiz pela manhã, bem cedo, em duas etapas, em dois domingos. Foram três sacos para lixo, de cem litros cada, bem cheios.

Lamento pelo restante da quadra, que continua do mesmo jeito, bem como vários outros quarteirões adjacentes.

Não me compete fazer mais que isso.

Pior, difícil mesmo é acostumar-se a uma cidade cheia desses matos e tão vazio de jardins com flores.

Sim, porque em muitas cidades dá gosto de se ver os jardins plantados nas praças, nos parques, nos canteiros centrais das avenidas, com flores de época, tão bem cuidados. E olha que o pelotense é um povo alegre, alto astral. Vejo isto quando passo ou entro em algum restaurante, lancheria, sorveteria, bar ou café, ou quando vou ao Laranjal, por exemplo. Sem falar do carnaval, que é uma explosão de alegria por aqui também.

Pelotas é uma cidade que respira e transpira música e que tem como principal atração turística os seus deliciosos doces artesanais. Então me pergunto: como pode este povo viver sem flores e com tanto mato (e lixo) pelas ruas? Recuso-me a me acostumar a isso!

Quem sabe uma futura nova administração possa mudar o triste visual da nossa Princesa. Torço por isto.

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