Editorial

Nem tudo é BraPel

O momento em que vivemos hoje, infelizmente, brapelizou as relações humanas. Em todo o assunto, o cidadão precisa ter uma opinião forte, normalmente expressada na rede social, sem filtro algum. Quase que imediatamente, vai surgir uma outra força opinativa, com uma visão extremamente oposta sobre o assunto e a questão vira um embate. Nessa, muitas relações se fragilizaram e se romperam, vínculos deixaram de existir e, no fim, ninguém ganhou. E o pior é que não há assunto específico que esteja imune ao ímpeto de opiniões fortes e contundentes.

Para quem acompanha o ex-Twitter, atual X, uma história ocorrida uns anos atrás marca esse tipo de situação. Uma moça inocentemente resolveu publicar fotos de potes de sorvetes dados por seu pai a ela, para serem consumidos durante o período de recuperação por extração de siso ou algo do tipo. Foi o estopim para a história virar debate e até acusação de insensibilidade e associação entre o poder aquisitivo daquela família (era um sorvete caro) e antepassados escravagistas aconteceram. Por algum motivo, centenas, talvez milhares de pessoas, viram a postagem e não conseguiram passar reto por ela sem deixar uma opinião não-solicitada.

Se a história acima é um tanto quanto cômica, tantas outras acabam indo parar em trincheiras. Ninguém aceita o muro como uma opção. Agora, a guerra na faixa de Gaza, entre Israel e Hamas, força milhares de opiniões ao longo do dia. Poucos lembram que dá para condenar o ataque inicial por parte do grupo terrorista e a posterior resposta de Israel. Em ambos morreram civis. Nenhuma vida importa mais que a outra. Mas "deusulivre" alguém falar isso!

O ponto é que a sociedade está apresentando uma espécie de doença de opiniões extremas coletivas e pouca tentativa de consenso, seja na política, no futebol ou em temas banais do dia a dia. A necessidade do embate não é tão necessária assim e, na vida real, as relações não têm a opção de "sair do grupo do zap". E, de alguma forma, alguém vai ler este próprio Editorial e pensar que o "editor comuna" ou "editor a serviço das elites" ou o "editor isentão" está completamente equivocado e esse texto é inaceitável. Faz parte. Talvez esse mesmo espaço esteja cometendo o próprio erro que está condenando: emitir uma opinião sem ser solicitada. Acontece.

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