A história a seguir escrita aconteceu uns anos atrás com um estagiário aqui do Jornal. O jovem fez uma reportagem sobre uma questão envolvendo obra de asfaltamento em um bairro de Pelotas. No dia seguinte, surpreendentemente, recebeu a ligação de um assessor de vereador, indignado, que seu chefe não foi ouvido na reportagem. Uma das falas foi "o bairro é dele. Tudo o que acontece lá envolve ele". Naquela mesma manhã, o parlamentar subiu com um exemplar do DP reclamado do "tratamento recebido". Vale sempre lembrar, vereador não tem nada a ver com asfaltamento ou qualquer obra pública. Quem faz isso é o Executivo. Pode até indicar, mas não é ele quem coordena.
A situação descrita ocorreu há uns bons anos. Era outra legislatura. Tanto que, anos depois, o assessor se desculpou pelo "surto". Mas é apenas um exemplo de uma postura bastante corriqueira com políticos: o comportamento de "pseudo-xerife", agindo como se fossem donos de uma região. É natural ter reduto eleitoral e fortalecer a presença nesses locais, mas a cidade não é dividida em distritos e seja o prefeito, seus secretários ou vereadores, atuam pelos interesses de todos dentro do Município.
Com o período pré-eleitoral já efervescendo, é cada vez mais comum ver esse tipo de comportamento. No entanto, é essencial que as comunidades não se curvem a atitudes mesquinhas e a arroubos totalitários por parte de quem deveria servi-los, e não o contrário. Ninguém é dono de nenhuma região, bairro ou comunidade. Além disso, como falado neste próprio espaço Editorial há poucas semanas, é preciso reforçar a ideia de que "cada um na sua", ou seja, vereador é responsável por fiscalizar o trabalho do Executivo e propor ideias, debates, enfim. Não realiza obras, não asfalta rua, não garante vaga em escola, patrolamento, geração de emprego, construção de moradia, enfim.
A comunidade deve ficar alerta a arroubos totalitários por parte dessas figuras que tentam ser mais poderosas do que seus cargos. Nunca é um bom sinal. Política é relacionamento, diálogo e construção de ideias, sempre a favor da sociedade, não de projetos próprios ou da própria imagem.
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