Vinícius Bierhals

A compaixão como sinal de civilização

Vinícius Bierhals
Acadêmico de Medicina da UCPel

Quando questionada sobre qual seria a prova maior e inequívoca do alvorecer da civilização em uma cultura, a antropóloga Margaret Mead respondeu não se tratar de técnicas avançadas de cerâmica, da escrita pictográfica, da arte rupestre ou da pedra lascada, mas sim de um fêmur fraturado regenerado. Na natureza, o animal incapacitado que, por si só, não é capaz de buscar alimento, está fadado à morte.

Em épocas nas quais não se gozava da Medicina moderna e de todas as suas possibilidades, semelhante fratura exigia cuidado prolongado e intenso por parte da comunidade. De acordo com Mead, "o primeiro sinal de civilização é a compaixão, vista em um fêmur curado". Nesse sentido, a Medicina, que possui como instrumento de trabalho o mais importante de todos os bens, e sem o qual nem um outro possui valor - a vida humana -, reveste-se de uma natureza excepcional. Em razão de colocar o médico em contato direto com as angústias, esperanças e tormentas do paciente que aguarda alívio de sua enfermidade, é do melhor interesse daquele que se propõe a ocupar tal posição, possuir em si o desejo de contribuir para o bem-estar de cada indivíduo e, por extensão, para o bem comum da sociedade. É da mais fundamental importância, assim, o exercício dessa virtude que, há milhares de anos, fez com que o homem pudesse tornar-se homem.

O Projeto Vi-Vendo, coordenado pelo professor da Universidade Católica de Pelotas, Dr. Roni Quevedo, é uma grande ferramenta na busca por uma sociedade mais saudável e inclusiva. Considerando-se os inúmeros desafios inerentes às parcelas da população negligenciadas pelo Estado, o Vi-Vendo demonstra como o terceiro setor pode auxiliar o poder público nas áreas em que a atuação deste é deficitária. Sabe-se que o ato de enxergar - e de enxergar bem - é peça-chave do quebra-cabeça formador do aprendizado e do desenvolvimento infantil. Dessa maneira, a simples realização de um teste de visão, em idade precoce, pode auxiliar essas crianças de modo a impactá-las por toda a vida, proporcionando-lhes a possibilidade de um futuro mais promissor.

Com toda certeza, é de grande valia para Pelotas poder contar com uma universidade que, de forma tão benéfica à comunidade, cria uma ponte entre o conhecimento acadêmico gerado e os problemas existentes na sociedade em que está inserida. Ganha a população, ganham os estudantes, ganham os beneficiados do projeto e, principalmente, ganham todos aqueles que acreditam na compaixão como elemento fundamental constitutivo da natureza humana.

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