Editorial
A ganância de sempre
O ano de 2022 nem havia acabado, faltavam ainda algumas semanas para a passagem a 2023, e os motoristas já começavam a sentir no bolso o peso da alta nos combustíveis. Em todo o Estado, abastecedoras passaram a aumentar, gradativamente, o preço cobrado dos consumidores para encher os tanques dos veículos. Movimento que não surpreenderia se não fosse por um detalhe: não houve qualquer anúncio de reajuste por parte da Petrobras.
Trazendo como exemplo os valores praticados em Pelotas, com base no monitoramento divulgado semanalmente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é possível notar a mudança. No começo de dezembro (entre os dias 4 e 10), o proprietário de um veículo de passeio pagava em média R$ 5,16 pela gasolina comum nos postos da cidade. Preço que foi subindo semanalmente até que, no dia 30, o litro estava em R$ 5,24. Oito centavos mais caro em apenas 20 dias. Sem que isso tivesse origem em alta nas refinarias. Mas isso, repetindo, é a média. Em algumas abastecedoras foi perceptível que o preço antes na casa do R$ 4,90 rompeu a barreira dos R$ 5,00.
A explicação informal dada por alguns empresários, e confirmada pelo presidente do Sulpetro – sindicato que representa os postos gaúchos – em reportagem do Diário Popular, é relacionada a uma expectativa. Tendo como base um possível fim da desoneração promovida pelo governo federal no ano passado com vistas a uma vantagem eleitoral, os preços passaram a subir. Tanto porque os valores de compra nas distribuidoras poderiam mudar em janeiro como também pela maior procura de quem buscava encher o tanque antes da suposta alta. “Isso está ocasionando uma falta de produto nesses últimos dias, porque as distribuidoras estão represando os pedidos”, disse ao Jornal João Carlos Dal’Aqua, indicando ainda que algumas abastecedoras no Estado já haviam subido em até 50 centavos a gasolina.
O curioso é que a mesma lógica, a da expectativa de mudança nos preços, nunca é usada para baratear. Pelo contrário: a cada baixa efetivamente aplicada pelas refinarias, o reflexo nas bombas demora vários dias.
Ou seja, na prática o que se viu foi empresas jogando sobre o consumidor o ônus de impostos que não existiam naquele momento – e que sequer haverá pelo menos nos próximos 60 dias, conforme anunciou o novo governo federal –, tudo para obter maior lucro. Em resumo, a palavra a ser usada pode ser ganância e, por conta dela, milhares de pessoas em Pelotas e milhões no Estado e no País tiveram prejuízos indevidos. Por conta disso, se justifica a determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino, para que a Secretaria Nacional do Consumidor apure estes aumentos por distribuidoras ou revendas. Há de existir seriedade no trato da questão e respeito ao cidadão.
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