Opinião
A velha estação de Basílio
Por Fernando Celso Faria Ferreira
Engenheiro e advogado
Hoje está quase uma ruína, mas muita história aconteceu ali. Sua construção se inseriu no projeto original da ferrovia Rio Grande-Bagé e ganhou mais importância quando passou a entroncar ali o ramal para Jaguarão. Seu conjunto compõe-se de três prédios: a estação propriamente dita, o armazém de coleta de cargas e um hotel com restaurante.
No seu auge transitavam por ali, diariamente, um trem que vinha de Rio Grande a Bagé, outro que vinha de Bagé para Rio Grande, o trem para Jaguarão, o trem Cerro Chato _ Pelotas, que ia e voltava no mesmo dia, e o Carro-motor Rio Grande-Jaguarão, que também ia e voltava no mesmo dia, mais os trens de carga e alguns extraordinários. A estação de Basílio era muito movimentada. Durante as revoluções de 1893 e de 1923 por ali transitaram tropas e negociadores do pacto de Pedras Altas. Carretas de bois e caminhões chegavam com as bolsas de lã e outros materiais para depósito no armazém aguardando transporte para Pelotas ou outros destinos. Cargas e encomendas que chegavam eram guardadas também ali até que seus destinatários as retirassem. Tinha também a camionete do Julio Lima que levava passageiros para Herval e estacionava entre a estação e o hotel. As malas postais eram triadas na agência postal local (Carlos Gonçalves era o ágil agente) e transportadas para Herval pelo Julio que também era estafeta do Correio.
Esse movimento todo gerava as condições para o desenvolvimento de uma comunidade operosa e socialmente significativa. Tinha razoável comércio estimulado também pela construção e operação de uma Sub-Estação da CEEE do sistema Candiota, enfim, tudo e todos viviam em função daquele serviço ferroviário e daquela estação. Entretanto, uma decisão técnica retraçou a linha férrea, tirando-a do seu leito histórico, abandonando a velha estação e desativando o ramal de Jaguarão. Assim começou a morte lenta daquela estrutura. Aliás, com decisões eminentemente técnicas privou-se uma população de um serviço que tinha uma função social importante. Uma lástima.
Mas, sem dúvida, para os mais antigos, ao percorrer aquele recinto ainda se percebe o agito daquele ambiente, os vendedores de pastéis e outras guloseimas que com a eficiência que o momento exigia (considerando o pouco tempo que as composições permaneciam na estação) fechavam suas vendas, o matraquear do telégrafo que chamava a atenção dos curiosos, a algazarra dos que chegavam e a seriedade dos que partiam, a presença imponente do Sub-Prefeito, o olhar atento do Cabo Taurino - responsável pela segurança do recinto -, a preocupação dos que demandavam à Herval com a expectativa de lotação da camionete do Julio Lima, a autoridade do agente da estação com seu boné vermelho, que acionando o sino de bronze liberava a composição para seu próximo destino. Tudo isto é apenas recordação, mas o silêncio da sua plataforma ainda ecoa o apito das velhas locomotivas como a saudar um tempo que não volta mais e a denunciar a extinção de um modal que a modernidade nos privou.
Muita saudade da velha estação de Basílio.
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