Lisiani Rotta

A vida como ela é

Por Lisiani Rotta
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Houve um tempo em que fechar os olhos me fazia tão feliz quanto mantê-los abertos. Não havia medo, nem dor. Só a certeza absurda de que nada de mal me aconteceria, apesar de ter consciência de que coisas ruins acontecem também às pessoas boas. Sentia, no fundo da minha alma, que eu era uma abençoada. Costumava simular mentalmente situações difíceis tentando imaginar a minha reação. Se eu furasse um pneu na estrada à noite? Se fosse assaltada? Se o meu barco afundasse em alto mar? Se eu visse alguém se afogando? Se a minha casa pegasse fogo? Se eu fosse traída? Se fosse presa injustamente? Se perdesse alguém? Eu não me portava tão mal na minha imaginação. Convencida de que para tudo havia uma solução, eu tinha a certeza de que sempre a encontraria. Ainda não conhecia o real significado de dor, perda e desilusão. Acreditava de verdade que tinha o corpo fechado e que nada de ruim me aconteceria. Por algum motivo que eu não compreendia eu havia sido tocada pelos anjos. Seguidamente relevava ofensas, abria mão de coisas, porque, afinal de contas, era o mínimo que eu poderia fazer pelos que, talvez, não tinham a mesma sorte. Era o preço a pagar pela minha alma leve e a alegria de viver. Eu pagava sem reclamar. Considerava justo. Houve então aquele ano cruel. Um golpe duro para a minha família. Foi quando eu soube que não há como se preparar para as provações da vida. Jamais estamos prontos para a realidade quando ela significa finitude. A dor pode nos apresentar versões desconhecidas de nós mesmos. Os sonhos e expectativas que apontavam a um futuro promissor podem se transformar em tortura quando vem à nossa mente com a certeza da impossibilidade. Lembram-nos, sem dó, do quão ingênuos fomos ao acreditar que passaríamos pela vida impunes. Mas como nada dura para sempre, quando enfim os nossos pés tocam o fundo do poço e tudo o que nos resta é a luta desesperada para voltar à superfície e respirar, renascemos como sobreviventes. Quem já passou por alguma situação difícil sabe. Não somos os mesmos depois de determinadas experiências.

A dor nos torna mais cautelosos, limita os nossos sonhos, ensina-nos a viver um dia de cada vez. Passamos a exigir menos respostas do universo. Compreendemos que a realidade pode nos roubar alguns sonhos, ferir-nos profundamente, mas não pode nos derrotar sem a nossa permissão. É neste momento, quando o passado e o futuro voltam aos seus devidos lugares, que o presente se revela surpreendente. Se antes, seduzidos pela beleza da vida, esquecemos que ela também pode ser cruel, como sobreviventes aprendemos a apreciar o instante em que o ar chega aos pulmões. Sentir de corpo e alma o momento em que se está é uma benção. A magia do agora é uma nova dimensão. Viver o presente é compreender o valor da existência, é concretizar que o sol nasce e se põe sem jamais se repetir.

Beleza oculta, filme com Will Smith no seu melhor papel, Kate Winslet, Keira Knightley, Helen Mirren, Edward Norton, Naomi Harris, entre outros astros e estrelas de igual grandeza, me fez rir e chorar litros com a sua reflexão inusitada sobre a Morte, o Amor e o Tempo.​

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