Editorial

A violência aceitável

Morreu na madrugada de ontem uma jovem que havia ido até o estádio do Palmeiras no último sábado para torcer pelo seu clube em jogo contra o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro. Aos 23 anos, Gabriela Anelli foi atingida no pescoço por uma garrafa arremessada por um flamenguista na entrada da arena palmeirense.

O caso de Gabriela, naturalmente, provocou durante o dia de ontem notas de repúdio de clubes, jogadores, entidades. Manifestações indignadas com a violência de torcidas organizadas, com a insegurança nos arredores das praças esportivas. E por aí vai. No entanto, não é difícil prever que em breve, talvez em menos de uma semana, a morte da palmeirense seja assunto vencido, incapaz de gerar notas de rodapé na imprensa, posts nas redes sociais ou discursos de dirigentes esportivos ou gestores públicos. E o motivo é simples: Gabriela é só mais uma. A violência que a atingiu é só mais um episódio na vasta coleção de absurdos do futebol brasileiro.

Basta um rápido esforço para que, certamente, o leitor lembre de outros casos de violência. Sejam eles recentes e de grande repercussão, como as agressões de integrantes da Gaviões da Fiel (torcida organizada do Corinthians) contra o atacante Luan, ou mais antigos, como a batalha campal entre palmeirenses e são-paulinos, em 1995, no gramado do Pacaembu, com 102 feridos e um morto. E não são só casos distantes. No último domingo, torcedores do Internacional de Santa Maria, da arquibancada, arremessaram pedras em direção a quem torcia pelo Pelotas _ que revidaram _, em partida da Divisão de Acesso.

Estes e outros incontáveis casos reforçam problema grave da sociedade brasileira: somos especialistas em lidar com problemas graves e complexos com soluções imediatistas e pontuais. A violência no esporte é apenas um exemplo. No Brasil, agressões, ameaças, quebra-quebra, racismo, homofobia, xenofobia e tantos outros crimes e infrações passíveis de duras punições conforme a legislação passam a ser menos sérios e até toleráveis no ambiente esportivo. E não há qualquer sinal de mudança. Federações esportivas, clubes e atletas mobilizam-se intensamente por direitos de transmissão, patrocínios, verbas publicitárias. Mas são incapazes de agir para tornar o esporte civilizado e seguro. Tal qual as autoridades públicas. Em breve, estaremos lamentando mais mortos e feridos.

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