Eduardo Allgayer Osorio
Agrotóxicos são nocivos à saúde dos consumidores?
Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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É frequente vermos na mídia notícias de que os alimentos produzidos usando os defensivos agrícolas (agrotóxicos) carregam resíduos tóxicos prejudiciais à saúde dos consumidores. Para dirimir dúvidas, vejamos o que diz a ciência.
Da mesma forma que os medicamentos, detergentes, desinfetantes e outros produtos de uso doméstico, mal usados os defensivos agrícolas podem causar intoxicações, motivando o Ministério da Saúde a pesquisar sobre o assunto. Tendo analisado durante duas décadas perto de dois milhões de registros de intoxicações protocoladas no Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), os pesquisadores constataram que apenas 6% delas estavam relacionadas com produtos fitossanitários (agrotóxicos), sendo 30% das intoxicações registradas provocadas por medicamentos, 20% por animais peçonhentos, 10% por produtos sanitários domésticos e as restantes por outras causas.
Alardes frequentemente veiculados levam os consumidores a temer contaminarem-se por resíduos tóxicos dos produtos químicos aplicados nas lavouras. Para avaliar essa possibilidade, a Anvisa iniciou em 2003 um Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para). Avaliando mais de quatro mil amostras, em 49% delas não foi detectado qualquer resíduo de algum agrotóxico e em 28% delas encontraram resíduos deles em níveis inferiores ao LMR (Limite Máximo de Resíduos permitido), levando esse insuspeito órgão oficial a declarar que "os alimentos consumidos no Brasil são seguros quanto aos potenciais riscos de intoxicação". Cabe destacar que os equipamentos usados nas análises feitas são de altíssima sensibilidade, com potencial para detectar resíduos na faixa de "partes por milhão" ou inferiores (uma parte por milhão equivale a pingar uma gota do produto em uma piscina olímpica cheia d'água).
Na prática, os reduzidos casos de alimentos contaminados podem ocorrer pelo agricultor deixar de cumprir o período de carência entre a aplicação na lavoura e a colheita. Seguindo as recomendações constantes nos rótulos das embalagens, evita-se o problema. Enquanto, na lavoura, as moléculas químicas dos produtos usados sofrem degradação, decompondo-se. Na maioria dos casos a "meia-vida" (tempo para degradar metade do volume inicial) dos defensivos aplicados varia entre três e seis horas, desintegrando-se totalmente em poucos dias, motivo que leva a ter que repetir a aplicação nos casos de reinfestação pela praga, tal como é feito com os medicamentos com prescrição de ingerir de oito em oito horas, por sofrerem metabolização no organismo.
Para evitar o risco de causar danos à saúde, são estabelecidos protocolos determinando as doses de aplicação, a frequência de uso e outros parâmetros, como o de considerar a DL50 (dose que mata 50% das cobaias em laboratório) para a classificação toxicológica do produto, mostrando os testes feitos que a nicotina, por exemplo, é considerada altamente tóxica (DL50 de 10 mg/kg), mais tóxica do que o paracetamol (DL50 de 2.400 mg/kg) e muito mais tóxica do que o glifosato (DL50 de 5.600 mg/kg), um dos herbicidas mais contestados pelos ambientalistas desinformados, ou a deltametrina (DL50 de 13.000 mg/kg), um inseticida usado na agricultura e também no combate ao piolho em humanos. Cabe lembrar que, para causar dano à vida, a DL50 precisa ser ingerida de uma só vez (ingestões periódicas vão se degradando, atenuando os possíveis danos à saúde).
Bom seria poder produzir alimentos em quantidade suficiente para nutrir uma população mundial de oito bilhões de pessoas sem necessitar aplicar produtos químicos nas lavouras. Situação que, com o conhecimento hoje disponível, ainda se torna impraticável.
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