Márcio Coimbra
Aliança improvável
Márcio Coimbra
Cientista político, presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica, ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado
A reforma tributária é uma das mais antigas demandas da sociedade brasileira. O setor produtivo, aquele que gera empregos, do pequeno comércio às indústrias de grande porte, é afetado pelo caos que é considerado o sistema tributário nacional. Logo, essa é uma pauta que une diversas partes, mas muito difícil de ser realizada, uma vez que atinge benefícios preestabelecidos.
O momento político, porém, produziu um alinhamento favorável ao processo de reforma, colocando do mesmo lado espectros ideológicos antagônicos que convergiram em um texto comum capaz de ser aprovado. Sob a regência de Arthur Lira, que garantiu o rito na Câmara dos Deputados, setores da direita e esquerda mostraram que é possível trabalhar em conjunto quando o assunto é compartilhado também pela sociedade.
Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, que poucos meses atrás duelavam pelo governo de São Paulo, mostraram maturidade política e institucional discutindo o texto e suas nuances, alinhando suas bases políticas e construindo consenso para o País avançar. O resultado da votação em dois turnos na Câmara dos Deputados, com um placar folgado, mostra que houve acerto político na busca por um texto comum. Para além de ser uma conquista do governo Lula, a reforma se tornou uma vitória do País, assim como a da Previdência, aprovada durante o governo Bolsonaro.
O ex-presidente, entretanto, foi o ponto fora da curva em uma semana que tinha tudo para marcar um movimento político importante para o País, afinal, depois de anos de polarização, pela primeira vez, foi construído um caminho político virtuoso de convergência. Bolsonaro se mostrou opositor à reforma, incentivou seu partido a votar contra o texto e acabou mais uma vez não trabalhando a favor do País.
Para além da aparente cisão entre Tarcísio e Bolsonaro, reconciliados posteriormente diante da conveniência política, o caso mostrou que pode estar nascendo uma nova direita pelo governo de São Paulo, digna de fazer política, alinhando prudência e engajamento no debate com propostas reais que podem fazer o País avançar. Lembro que o real conservadorismo, para além dos dogmas morais, caracteriza-se por ser uma vertente política alicerçada na ponderação, moderação e prudência, características que passam longe do radicalismo.
Os dias que passaram mostram que finalmente o País pode abandonar o embate e partir para o diálogo, algo essencial e fundamental para o exercício da política. Certamente não haverá convergência em todos os pontos e isso também é salutar, afinal, em uma democracia, é preciso conversar sobre pontos de vista divergentes para encontrar um caminho comum, virtuoso e equilibrado.
Ao trazer para o protagonismo os nomes de Tarcísio, Haddad e Lira, a política brasileira operou um arranjo de resultados e, talvez, esse seja o efeito mais importante da semana que passou. Uma nova geração de lideranças capaz de dialogar, debater, convergir e representar frentes políticas diferentes que legitimam um processo de mudanças. Ainda estamos distantes do caminho ideal, é verdade, mas enxergamos um movimento que finalmente mostra sinais de diálogo, fator essencial para que nossa democracia se fortaleça e nosso País avance.
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