Editorial
As redes e o compromisso social
Turbulência possivelmente seja o termo mais ameno que se possa usar para fazer referência ao que vem vivendo o Brasil nos últimos anos em termos de disputas políticas e ideológicas. Desde 2013 – usando como marco os movimentos que ficaram conhecidos como Jornadas de Junho –, o País mergulhou em um acelerado e intenso processo de quebra de consensos mínimos estabelecidos na sociedade. Questões como comunismo x capitalismo, esquerda x direita, progressismo x conservadorismo e tantas outras – até mesmo direitos humanos – passaram a ocupar um espaço no debate público que talvez só tenham preenchido em meados do século 20, quando de fato eram questões definidoras de rumos em diversas partes do mundo.
Ponto em comum nestes debates acirrados há quase uma década no Brasil e com poucos indicativos de que se encerrem em breve é o papel de destaque obtido pelas redes sociais. É inegável o quanto plataformas online de distribuição de conteúdo praticamente sem qualquer filtro passaram a interferir no comportamento dos cidadãos e no estímulo a discussões e conflitos. Não faltam análises – acadêmicas ou não – de especialistas em comunicação social, redes e comunidades virtuais tratando sobre o tema e apontando para essa acentuada influência. Como bem lembrado pela mestre e doutoranda em Filosofia e Ética Celina Brod, em artigo publicado no DP de quarta-feira, “dizer que as redes enquadram falsos problemas não é o mesmo que dizer que esse comportamento não gera efeitos no mundo físico”. Estão aí as incontáveis polêmicas e notícias falsas espalhadas em progressão geométrica – e seus resultados políticos e sociais – para mostrar o quanto o virtual pode influenciar e atrapalhar o real.
Da mesma forma como as plataformas digitais de conteúdo não profissional podem ser aliadas em momentos chave de debate público ou em campanhas positivas que necessitam de rápido engajamento, também se mostram perigosas geradoras de desinformação e até de um falso sentido de indignação e urgência coletiva.
É por isso que, ainda que alvo de ataques – muitos deles arquitetados e incentivados por grupos de interesse agindo nos meios digitais –, a imprensa permanece sendo alicerce social indispensável. Embora não seja infalível e cometa erros, o jornalismo profissional, feito com seriedade, é a fonte em que o público sabe ter existido método de apuração e checagem, cujo objetivo não é provocar o caos, mas sim garantir o direito de informação útil para que forme seu juízo com base no mais próximo da verdade. É como o cidadão consegue identificar de onde partiu a notícia e, se for de sua vontade, entrar em contato para reclamar, sugerir, pedir explicações. Isso faz toda a diferença.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário