João Carlos M. Madail
Brasil mais próximo da China
João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
[email protected]
A abertura econômica da China se deu a partir de 1976, quando Mao Tse-Tung morreu e Deng Xiaoping conquistou o poder político. Mas a reforma e abertura comercial foi lançada oficialmente no final de 1978, durante o período "Boluan Franzheng", que significa literalmente "eliminar o caos e voltar ao normal". A partir daí, a China iniciou uma série de reformas econômicas, as quais tiveram como base os fartos subsídios estatais, para tornar o país um grande exportador de produtos de baixo custo, visando atrair pesados investimentos estrangeiros.
As relações entre Brasil e China começaram no início do século 19 e continuaram até 1949, quando foram interrompidas em função da criação da República Popular da China. Em 1974, durante o governo do general Ernesto Geisel, houve um acordo sobre a criação e funcionamento da Embaixada do Brasil em Pequim e da Embaixada da China em Brasília e as relações entre os países foram normalizadas. Desde então, os laços bilaterais têm crescido com base nos princípios de não-interferência, igualdade e benefício mútuo.
Em abril de 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, desbancando 80 anos de liderança dos Estados Unidos na corrente de comércio e, ano após ano, vem ampliando a sua participação relativa nas importações e exportações brasileiras e a sua vantagem em relação aos demais parceiros. A cooperação entre os dois países envolvem vários projetos como o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, preparado desde 1988 e que já construiu com sucesso satélites que fornecem informações importantes sobre recursos naturais. Daí em diante se intensificaram as trocas nos segmentos das comunicações, onde o Brasil importa equipamentos de telecomunicações, válvulas e tubos termiônicos, compostos organo-inorgânicos, vários produtos para a indústria de transformação, adubos e fertilizantes, medicamentos e produtos farmacêuticos, exceto veterinários, máquinas e aparelhos elétricos, semicondutores, combustíveis lubrificantes, além de outros. Em contrapartida o Brasil exporta para a China soja, minério de ferro e seus concentrados, óleos brutos de petróleo ou minerais betuminosos, açúcares e melaços, produtos alimentícios, carne bovina refrigerada ou congelada, além de matérias-primas para semicondutores existentes no País e outros tantos.
Na recente estada do presidente do Brasil na China, foram firmados 15 acordos comerciais que consolidam ainda mais a parceria. O diferencial nas transações tem sido a possível criação de uma moeda independente para os futuros negócios entre os dois países, o que proporcionará menos atritos nas trocas diretas, rápidas e mais baratas, pois, com a utilização do dólar, há a necessidade das conversões na moeda brasileira e na moeda chinesa.
Como a China corresponde hoje à segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com tendência a continuar crescendo economicamente, estar próximo dos chineses nas relações comerciais é um bom indício. Porém, o Brasil não pode virar as costas para os Estados Unidos, país democrático e próximo, seu parceiro comercial desde 1825, cujas exportações brasileiras cresceram cerca de 90% em apenas 14 anos. Em 2021, o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos atingiu seu maior nível, totalizando mais de 50 bilhões de dólares, onde as exportações brasileiras cresceram mais de 48% e as importações 30%, ambas com valores recordes.
Para manter as principais economias mundiais como parceiras comerciais, há que se ter estratégias políticas muito bem pensadas, visto que Estados Unidos e China são países politicamente rivais no contexto internacional, que interpretam a aproximação de aliados como preocupante.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário