Rubens Amador
Carpe diem
"Quando nascemos já começamos a morrer".
Carpe diem é uma expressão latina que quer dizer: Curta o dia! Aproveite-o! Desfrute-o bem! Quem chega à idade provecta, esta na qual colhemos conhecimento e experiência, tempo em que, paradoxalmente, ficamos - é preciso reconhecer-se - fragilizados, dado a que nosso corpo, também provecto, apresenta vez por outra, surpresas no setor saúde, que, num primeiro momento nos abatem, nos assustam, e acabam nos deprimindo; para, a seguir, na maioria das vezes, tirarmos de letra o problema que nos surgiu.
Porque se deu o seguinte processo: passada a angústia do diagnóstico, vamos readquirindo serenidade e aceitação de tudo o que tiver que vir, se alimentarmos em nós aquela Fé que todo ser humano alberga - tenha o nome que tiver - desde tempos imemoriais, em nossas cogitações íntimas. Somos notáveis nessa capacidade, motivados talvez pelo Instinto de Vida, de que nos falou Freud. E quando assim reagimos é certo de que venceremos o problema, seja ele de que etiologia estiver revestido, tão somente porque, com o passar do tempo reunimos forças notáveis (que possuíamos e nem sabíamos), para nos defendermos do ataque da moléstia.
Só sucumbe aquele que desde o início se deixa levar pelo resultado de uma radiografia ou de um ecocardiograma, e não quer saber de mais nada, colhendo a interpretação como uma declaração de morte. Vencemos o medo sim! E a seguir sobrevém-nos uma vontade notável de viver; é quando surge a opção do carpe diem, que devemos exercitar, fazendo com que cada dia, depois de tudo que sabemos, deve ser vivido com determinação e coragem.
Curtamos o nosso dia! Reaproximemo-nos das coisas que gostávamos de fazer, telefonemos para os amigos, procuremos saber de coisas que a nossa curiosidade positiva deseja saber. Leiamos um bom livro. Freqüentemos a um restaurante; passeemos; caminhemos; contemos piadas e ouçamos outras tantas. Ponhamos Sinatra na vitrola. A doença vai atenuar-se logo ante os poderosos humores que nosso Espírito vai criar num processo químico notável. Peçamos por nós, pelos nossos e pelas pessoas amigas. Acabaremos sentindo a presença de Alguém. E aqueles dias em que parecia que não haveria mais solução para uma situação difícil; mas ela surgiu; de repente! Como um milagre? Pois foi mesmo um Milagre! Aceitemos.
Um querido amigo, apaixonado pelo cinema, recomendou-me notável filme. Dele dei-me o trabalho de traduzir a fala final da atriz Geraldine Chaplin, que encarnava uma freira na película. Sintamos suas sábias palavras: "...em breve todos morremos. E toda a lembrança terá deixado a terra. Nós mesmos seremos amados por um tempo e depois esquecidos. Mas esse amor terá sido o suficiente. Todos os impulsos do amor retornam aos que os causaram. Mesmo a lembrança não é necessária para o amor. Há uma terra dos vivos e uma terra dos mortos. E a ponte é o Amor, o único sobrevivente...o único significado."
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