Editorial
Cérebros tipo exportação
Na quinta-feira da semana passada o professor Tiago Collares recebeu uma equipe do Diário Popular no seu laboratório, no anexo III do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) por volta das 15h30min. A entrevista, que rendeu a reportagem das páginas 8 e 9 de sexta, sobre os 20 anos do Projeto Genoma Humano, durou cerca de 40 minutos. Em pelo menos dois momentos – que não foram para a versão final do texto, por questões de espaço – o professor usou a frase “isso não é em Harvard, nem na Nasa. É aqui na UFPel” para se referir a alguma pesquisa impressionante feita dentro da instituição.
Professor, aliás, é um resumo resumidíssimo para Collares, já que sua titulação ocupou seis linhas das páginas citadas. Currículos e pesquisas impressionantes se tornaram algo bastante comum na UFPel, basta ver o prêmio recebido por Cesar Victora (veja na página 10 desta edição) e tantos outros, dezenas, talvez centenas, de pesquisadores brilhantes alocados aqui em Pelotas.
Na mesma quinta-feira, horas antes, o vice-governador do Estado, Gabriel Souza (MDB), palestrou na reunião-almoço Tá Na Hora, promovida pela Associação Comercial de Pelotas. Na sua fala, Souza destacou o capital humano da região, citando a própria UFPel e a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) como potencializadores da competitividade econômica da região. Um diagnóstico preciso e animador. Sinal de que o governo do Rio Grande do Sul já nota o potencial intelectual gritante da Zona Sul, com dois parques tecnológicos, três grandes universidades – considerando Rio Grande e a Furg –, sendo um berço cada vez maior de startups e empresas inovadoras.
O problema é que, após a entrevista, em conversa informal com a equipe do DP, Collares queixou-se, apontando que o cenário poderia ser muito melhor. Fez uma analogia afirmando que a ciência brasileira não é competitiva, comparando-a a um fusca de pneus furados em uma corrida contra outros países pilotando Ferraris. E esses países, especialmente China e Estados Unidos, acabam atraindo mentes daqui para desenvolver seus potenciais. A proposta de melhor estrutura, melhores salários, maior valorização e estabilidade convence quem poderia estar produzindo para nós.
O governo federal atual acena positivamente para a valorização do potencial científico nacional. É algo empolgante. A preocupação que fica é que mudanças no cenário político afetem novamente isso. Cabe às lideranças de Pelotas, Rio Grande e do próprio Estado, estar vigilantes e exercer pressão constante para que isso seja cada vez mais valorizado. Bem explorado, a Zona Sul pode estar sentada em uma mina de ouro, com possibilidades infinitas de geração de conhecimento que pode ser revertido em melhorias para toda sociedade e recursos financeiros para a região.
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