Rubens Amador

Chumbação no queixal, pelo SUS

Rubens Amador
Jornalista

O paciente do SUS, depois de oito meses, conseguiu ser atendido por um dentista. A fila era enorme. "Doutor, preciso de uma 'chumbação no queixal', pois tem uma 'panela' que ficou enorme ante a espera pelo senhor." O profissional não respondeu, pois tinha que atender mais dez naquela manhã. A um salário não muito lá essas coisas.

Examinou o interior da boca do segurado e viu que, além dos casos citados com aquela nomenclatura popular, havia um tratamento de canal urgente, ante a dor e a supuração. Mas não tinha raio-X! Era para desanimar. O que fazer, se o Sistema Único de Saúde tinha esquecido que em odontologia é preciso tempo, embora certos trabalhos possam ser feitos em uma sessão normal, que duraria uma hora. Mas como obter uma hora para cada um dos pacientes que esperavam lá fora? O negócio era extrair, o verbo mais recomendado pela situação. Cárie complicada, extraia-se. O dependente do SUS entrava com 27 dentes e saía com 23! Era o jeito.

Mas... Sempre tem um mas. Se ele fosse senador ou deputado, teria um serviço ligeiramente melhor. Senão, vejamos: cada um dos "salvadores da pátria" desses tem um serviço um pouco melhor, dizia, pois lhes assegura, à sua família e dependentes, incluídos os enteados, pela lei por eles criada. Mesmo que o senador venha a falecer, o serviço é "ad aeternum", inclusive para a parentada. Que odontologia é fundamental para a saúde geral do ser humano e, assim quem for senador só por 180 dias, por exemplo, basta, pois já passa a contar com o serviço por conta do erário, isto é, nós é que pagamos.

Como vimos a "carência" deles é a menor que existe: 180 dias, mas ininterruptos, diz a lei, pressurosa de evitar abusos. E ininterrupto rima com corrupto! Os interessados não têm de pagar nenhuma importância por este plano odontológico maravilhoso. É grátis. Vai na conta do "Zé". Não esqueceram os entados. Sabe como é: hoje tem muito casa e descasa. O caridoso plano é vitalício. Quando para o pobre, só tem vitaliciedade para o sofrimento. Quer dizer, se vier impor-se uma "posticinha" senatorial, seremos nós que também vamos pagar, só que a um alto preço, pois a chapa vai ser, no mínimo, de porcelana aluminizada, pois não estamos tratando de uma boca qualquer.

Os nossos ilustres parlamentares têm direito de apresentarem gastos anuais com o "teclado" num valor muito expressivo. São essas coisas todas que reúnem o povo, como naquele junho inesquecível quando - de repente - muitos nem sabiam por que estavam ali. Só sabiam que algo precisa ser feito ante tanto descalabro. Democracia é isto, desde que em ordem.

Foram abusos como esses que a monarquia russa, em 1917, praticou e acabou criando outro monstrengo, que foi o comunismo. São coisas como essas que indignam as pessoas e que as tornam, de repente, criaturas violentas a cometerem crimes de vandalismo, numa espécie de vingança contra repetidos abusos que sofrem e ouvem seus maiores falarem em casa.

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