Rubens Amador

Cinema e modernidade

Rubens Amador
Jornalista

Há já algum tempo assisti o filme Tróia num desses cinemas de shopping. Comecei rindo. Adentrou na sala um frequentador tomando mate, com térmica e tudo. Atrás dele vinha um nédio cidadão com um pacote de pipoca colossal, sobraçando uma latinha de refrigerante. O cinema de hoje apresenta alguns aspetos novos que surpreende ao frequentador antiquado como eu. Ouvi várias latas de refri sendo abertas durante a sessão. O pessoal se divertia, comendo.

De repente, no escuro, parecia uma revoada de vagalumes. Eram rapazes e moças que ligavam os seus celulares coloridos, o que tirava a concentração no filme dos demais. E a geração nova conversa em voz alta na maior descontração, fazendo com que a turma do sereno troque duas ou três vezes de lugar. Atrás de mim, uma menina brigava com o namorado (?) porque que ele tinha "ficado" com a fulana. Ele se defendia dizendo que só a levara em casa, porque eram 4h30min da manhã. Aí troquei de lugar e saí do assunto. Uma senhora na minha frente afogou-se com algo, pois levantou-se de um salto e fez um ruído estranho e gutural. O da sua frente gritou: "Olha a chuva!". Foi rápido, exatamente o tempo de Brad Pitt fazer uma moça que tinha oferecido sua virgindade aos deuses mudar de ideia e tudo acabou como nas fitas de hoje.

Além do falar alto, o pessoal come pipoca de montão, bebe refrigerantes se afogam, só não ouvi _ confesso _ nenhum arroto. Fiquei pensando em um mais ousado, que leve um dia destes, marmita. Ou até mesmo um pernil.

Apesar de tudo, consegui ver o filme. É bom. Quem não for, vai perder. Tem Peter O'Toole. O cavalo da lenda estava horrível. E achei pouca ênfase sobre Helena de Tróia, linda, como eram as gregas com seu perfil. Mas fiquei imaginando aquelas beldades, como podiam ser amadas, naquele tempo em que não havia cirurgiões dentistas, e no "queixal" haviam "panelões" sem "chumbação" e faltas em alguns dentes na frente. Sem dentifrício, deviam ter um bafo tipo Clark Gable, que foi famoso como o terror das cenas de beijo. Os gregos eram avançados para a época, mas a falta de bons desodorantes deve ter feito muito glabro guerreiro entrar em pane em certas horas.

Enquanto a disputa histórica de gregos e troianos ocorria, lembrei-me da Lacônia, uma pequena cidade grega, em que seus filhos se tornaram célebres até hoje por serem breves, concisos, lacônicos, ao falar ou escrever. Conta-se que dois lacônios apreciavam uma tela que mostrava uma batalha feroz entre gregos e troianos. Um deles apontou para os troianos e disse: "Valentes…". Seu patrício respondeu-lhe: "Em pintura!". Precisava dizer mais?

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