Karine Ruy

Da apatia à empatia social

Karine Ruy
Jornalista e coordenadora-geral da Fundação Gerações

Conversas difíceis são necessárias. Geram desconforto, mas também têm o potencial de provocar movimentos de autocrítica - pessoal e organizacional - e avanços coletivos em um cenário de radicalização das relações e descortinamento dos preconceitos históricos que marcam nosso modelo de sociedade. E essas conversas permearam o 12° Congresso do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), realizado recentemente, com o propósito de debater formas eficientes de combate às estruturas das desigualdades no Brasil.

A provocação feita ao papel do Investimento social privado na construção de intervenções e metodologias inovadoras conectadas aos desafios socioambientais do Brasil merece atenção. Emerge a necessidade de envolver e confiar nas organizações de base, que conhecem os territórios e seus desafios reais - condições essenciais para trabalhos estruturantes e com real capacidade de transformação.

O modelo grantmaking, definido pelo Gife como o "repasse voluntário de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais, culturais e científicos de interesse público", é uma tendência internacional que vem sendo disseminada no Brasil. O objetivo é facilitar o acesso a recursos e fortalecer as entidades de base.

No último Censo da organização, relativo a 2020, foram identificadas 104 iniciativas nesse modelo no País: 62% concentradas em São Paulo, 23% no Rio de Janeiro e apenas 7% no Rio Grande do Sul. O mapeamento indica que há espaço para o movimento grantmaking avançar localmente, assim como a nossa cultura da doação. Para a concretização desse formato, a humildade do investidor social e sua confiança na potência das organizações de base territorial são elementos centrais para parcerias duradouras.

A apatia social sempre trará danos profundos e muitas vezes irreparáveis à sociedade. Queremos arriscar negociar - com poucas chances de sucesso, devo sublinhar - as novas contas geradas pela indiferença ou assumir, com compromisso ético radical, as ações por uma sociedade justa, sustentável e inclusiva? Convido todos a examinar o desafio com afeto e escolher o único caminho capaz de promover esperança.

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