João Carlos M. Madail

Desigualdade social do Brasil

João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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Em recente visita por locais do litoral nordestino, pude constatar as belezas naturais que por lá existem. São mais de três mil quilômetros de extensão, começando no Delta do Paraíba e indo até o Recôncavo Baiano. A geografia da região inclui arrecifes, coqueirais, dunas, falésias, lagoas e manguezais e vasta hidrografia. Esta região representa a primeira zona de povoamento criada pelos conquistadores portugueses que iniciaram a colonização a partir do litoral nordestino, pois favorecia a ocupação em razão da presença de melhores condições naturais. A ocupação de parte dos espaços litorâneos ocorreu de maneira desordenada, na forma de posse, onde populações de baixa renda vivem precariamente dependentes, em parte, de pequenos negócios artesanais oferecidos a turistas.

O Brasil é sabidamente um país emergente. Embora tenha muitas riquezas, elas não são bem distribuídas entre a população. Como consequência, existem lugares em que a qualidade de vida é maior, enquanto em outros é baixa. A questão inquietante é o porquê se vive num País tão rico, mas tão desigual? Se o Brasil é tão rico, porque alguns locais possuem índices melhores do que outros?

De forma geral, a parte sul do País apresenta melhores índices do que a parte norte e nordeste. Uma das explicações é o pouco ou quase nenhum investimento público ou privado nesses locais, o que contribui para a desigualdade entre os estados da federação. Além do mais, o processo de industrialização ocorreu principalmente nos estados das regiões Sul e Sudeste. Ao visitar o litoral nordestino, em função do clima tropical com poucas variações, dá vontade de morar por lá. Entretanto, encontrar muitas das oportunidades que se tem no Sul ou Sudeste se torna um desafio difícil de ser superado. Logo vêm à mente uma série de fatores determinantes. Esses fatores devem ser levados em consideração quando o desejo é contar com boas condições de vida, seja para a educação, financeira e/ou saúde. Sem políticas públicas que promovam melhor distribuição de renda e serviços públicos de melhor qualidade, o Brasil nunca avançará.

Os dados da desigualdade no Brasil são alarmantes e tema dos discursos políticos a cada pleito, mas na prática nada acontece. A região nordestina, especificamente, parece estar rodeada por problemas de cunho político. Dá a entender que vive uma ditadura silenciosa evidenciada pelo coronelismo. Famílias pobres são sempre induzidas a votarem em seus políticos, pois eles prometem tudo que não podem cumprir. Na prática, o governo brasileiro deveria estimular a indústria de base e indústrias que utilizem no seu processo produtivo insumos locais. Desta forma as indústrias destas regiões poderiam competir com as indústrias da região Sudeste. É na faixa litorânea da região Nordeste do Brasil, do Rio Grande do Norte à Bahia, que se concentra a maior densidade demográfica de todo o Nordeste, onde a oferta de mão de obra é abundante para atender às necessidades dos processos produtivos.

Na atualidade, as atividades agrícolas e pecuárias são as que movimentam a economia da região. Culturas tradicionais se mantêm ao longo do tempo, como o cultivo do feijão, milho, arroz, café, coco, algodão, mandioca, sisal, banana e castanhas. Com pouca diversificação da agricultura e indústria, grandes latifundiários, concentração de renda, agravados, no sertão nordestino, pelo fenômeno natural de secas constantes, a região, segundo estudos, conta com cerca de 40% das receitas provenientes de repasses da União.

Até quando, no Nordeste, prevalecerão condições sociais precárias, em meio a tantas riquezas naturais indescritíveis?


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