Artigo
Discursar está complicado, poucos entendem a comunicação padrão
Por Nery Porto Fabres
Professor
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Depois de velho gagá, descobri os atalhos para os discursos presenciais, não sofro mais com a falta de argumentos para cessar os ataques furiosos de manifestantes que apoiam determinados partidos políticos.
Quando os chamo de manifestantes, o faço com plena consciência de que atendem manifestações pensadas em diretórios partidários. Estes seres que se impõem com vozes agressivas, em tom acima dos decibéis aceitáveis em prática de diálogos, não o fazem por desconhecimento da boa dinâmica discursiva ou por não terem sido educados para os debates. Agem assim, na maioria das vezes, por ordens de partidos políticos.
E há outros tantos que fazem por desconhecerem os instrumentos da comunicação padrão e da gramática normativa. São sabedores de que precisam levar, no grito, um bate-boca que poderá causar polêmica e, notadamente, elevar a imagem do discursista a um nível que lhe traga votos nas urnas.
Na velhice, o nosso sistema cerebral detecta o falante maldoso, aquele que vem com uma narrativa pronta para ser contra-atacada e se utiliza da retórica para apresentar a réplica e a possível tréplica. Este papo furado de botequim, de barzinho que abre depois das dez da noite, de calçadas em centros históricos e feiras dos livros. As armadilhas sempre se posicionam nestes espaços. Os militantes se apoderam de falas prontas, de páginas de livros escritos por seus patrões de partidos.
Dia desses fui tomar um café no Aquários e me veio um sujeitinho cheio das palavras sem relações sintagmáticas. Vinham caindo em meus ouvidos coisas ditas de forma desajustada gramaticalmente. Por mais que se reze, sempre se encontra esses tipos falastrões que surgem no meio da multidão, cheios de coragem e despejam asneiras de deixar Irandé Antunes e Celso Cunha sem ação.
O discurso deveria ser ensinado nas escolas. Sem sombra de dúvidas até tentam, o problema é conseguir dar continuidade no avançar das fases da Educação. Porque as universidades deixam de lado a Língua Portuguesa e se apegam em cadeiras das grades curriculares que possam ser técnicas, como se a comunicação não fosse técnica. E dá nisso, se tem de ouvir baboseiras de pessoas com curso superior que não foram treinadas nas universidades para se comunicarem.
Lembro às vezes, admito que com muita nostalgia, dos diálogos de Ricardo Rojas Fabres. O cara vinha munido de material discursivo. Dobrava a esquina do Café Aquários, pela Sete de Setembro, com o peito estufado e com o sorriso largo, me abraçava e saltava um beijo no rosto. Pedia dois pretinhos básicos e se ia para o bate-papo. Difícil o desarmar. Vinha, como disse, armado de leituras, a maioria marxistas, tinha o dom da fala e paciência de encantar quem se atrevesse a ouvir.
Esses caras como ele partiram cedo, nos deixaram saudades e o mundo não repõe gente inteligente na mesma velocidade que partem para outro plano.
Eu fiquei velho, gagá, chato, rabugento e silencioso. Meus ouvidos estão me salvando das encrencas discursivas.
Pois é! Tá complicado dialogar com discursantes radicais, por isso a saudade daqueles bons debatedores aperta quando se ouve tanta gente falando coisas sem fundamentos.
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