Opinião
Dona Maria II, uma brasileira no trono de Portugal
Sergio Cruz Lima
Após a vitória contra dom Miguel, seu irmão, e a entrega da coroa lusa para sua filha, Maria da Glória, agora dona Maria II, dom Pedro visita a cidade do Porto. Dentro de coches agaloados, vê com os olhos marejados de lágrimas os delírios como a heróica cidade recebe o seu ídolo. Logo, porém, seguem-se os fracassos. A impopularidade. A vaia. Os apupos. Os punhados de lama. Toda aquela escumalha de ingratidão popular que fervilha contra o homem que fora o deus da véspera. Começa agora o martírio do duque de Bragança. É a doença que chega. São as hemoptises. O quebramento das forças. O leito. A morte.
Dona Maria II, a brasileira rainha de Portugal, 15 anos de idade, cabelos loiros e frescos, começa a governar o país. Timbra a rainhazinha, desde logo, em tratar com altas deferências a madrasta e ex-imperatriz do Brasil. Dona Amélia, porém, prefere instalar-se no Palácio das Janelas Verdes. As relações entre ambas ocorrem num mar de rosas. Para isso, muito contribui o casamento de dona Maria II com o príncipe Augusto, irmão de dona Amélia. Ele morara no Rio de Janeiro, cidade na qual fizera amigos e da qual levara muitas saudades. Dom Pedro o estimava muito. Por isso, dele fez alta patente das forças armadas brasileiras e nomeou-o duque de Santa Cruz, aliás o único duque do I Império, assim como Caxias seria o único duque do II Império. Foi pela mão de dona Amélia que Augusto de Leuchtenberg casou com dona Maria II. O príncipe consorte exerce posição relevante na corte portuguesa, mas a posição há de durar pouco. Algum tempo depois, ele morre de febres bravas. As Cortes casam-na com outro príncipe de casa reinante: Fernando de Saxe Coburgo Gotha.
Após a morte de Augusto, esfriam-se as relações pessoais entre dona Amélia e dona Maria II. Rivalidades? Ciúmes? Intrigas? Pequenos nadas de mulher a mulher? Talvez no coração da ex-imperatriz houvesse fundo espinho. É que, do casamento com dom Pedro, nascera também uma menina: Maria Amélia. A verdade é que, dia a dia, acentuam-se as divergências entre elas. Até no modo de vestir andam ambas desencontradas. Dona Maria II, como se entende, era o foco. Todos se voltam para o Palácio das Necessidades, no qual residia. O Paço se coalha de áulicos. Os cortesãos, aqueles mesmos que outrora rastejavam aos pés de dona Amélia, se põem dia a dia a desertar dos salões tristes das Janelas Verdes. A morte do príncipe Augusto, por fim, provoca uma debandada geral e dona Amélia sente o amaro travor da desvalia. Enquanto dona Maria II reina, embora morra muito cedo, após ter dado ao trono muitos filhos, inclusive dois reis, dom Pedro V e dom Luís I, dona Amélia vive plácida e amargamente o final de sua vida.
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