Editorial
E como fica quem espera?
Parece não ser para logo a solução de um problema que tira o sossego de algumas centenas de pessoas em Pelotas e região que aguardam por uma cirurgia eletiva pela rede pública. Apuração feita pelo repórter Douglas Dutra que estampa a manchete e a página 3 desta edição do DP mostra que o Município não irá se habilitar a fazer parte do Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas, lançado pelo governo federal há um mês com o objetivo de, como o nome da ação deixa claro, dar vazão a uma lista de espera de milhares de brasileiros que precisam destes atendimentos.
Problema apontado desde os primeiros meses da pandemia de Covid-19, o represamento de exames e, principalmente, de cirurgias eletivas só foi ganhando corpo ao longo dos dois anos em que o coronavírus tornou-se - compreensivelmente - a principal preocupação de autoridades em saúde. Por óbvio, hospitais vinculados ao SUS precisaram se transformar em locais capazes de dar conta da imensa demanda de pessoas infectadas, virando referência imprescindível na hora de salvar vidas. O que, por outro lado, exigiu a suspensão de serviços não urgentes naquele momento.
Agora, contudo, o problema é outro. Com funcionamento normalizado, os hospitais indicam não terem interesse em receber os recursos federais para os procedimentos eletivos - só para o Rio Grande do Sul seriam R$ 32,2 milhões - sob uma alegação já bastante conhecida: a defasagem da tabela SUS. Não é de hoje que Santas Casas, hospitais filantrópicos e demais instituições com atendimento pelo Sistema Único de Saúde reclamam que os valores pagos por serviços prestados são muito abaixo do real custo disso para estas casas de saúde. O que, no fim das contas, estaria colocando muitas delas em situação de endividamento e/ou precarização do atendimento à população.
No caso de Pelotas, tem chamado atenção ainda uma queda de braço difícil de entender: de um lado a Prefeitura afirma não ter noção da fila de espera por cirurgias porque esta informação é prestada pelos hospitais responsáveis por realizar os procedimentos; enquanto de outro as instituição não informam estes números porque dizem que a responsabilidade pela regulação da demanda é da Secretaria Municipal de Saúde. No meio dessa penumbra, nenhuma informação é prestada e a sociedade segue sem saber quantos são os cidadãos à espera de cirurgia, que tipo de procedimentos mais são demandados, qual a vazão atual dessa fila.
Sem regulação e sem interesse dos hospitais, a lista de espera segue, pela lógica, aumentando. E quem nela ingressa troca a esperança criada pelo anúncio do programa federal pela continuidade da incerteza do acesso a algo que é direito essencial: atendimento de saúde.
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