Editorial

Educação impensada

Afirmar que a educação no Brasil é, de forma geral, cheia de problemas é como chover no molhado. Quando olhamos para o sistema público de ensino, fica difícil até mesmo apontar qual o maior dos desafios a serem enfrentados para que as escolas tenham a capacidade adequada de formar cidadãos preparados para a complexidade da vida em sociedade e, junto a isso, estarem aptos a boas oportunidades na fase adulta.

Apesar de tudo isso, no entanto, o Poder Público nacional resolveu instituir um sistema que, na concepção de seus idealizadores, abriria portas para que milhões de jovens pudessem sair das escolas mais qualificados: o Novo Ensino Médio. Entretanto, o que os relatos de estudantes e professores vêm mostrando desde que o modelo passou a ser aplicado é que a tentativa tornou-se frustrante.

Acompanhada de perto pelo Diário Popular desde que ainda era apenas uma possibilidade em avaliação, a mudança no Ensino Médio mostrou-se capaz apenas de provocar reclamações e inseguranças nos jovens, principais afetados e interessados no tema. Relatos trazidos pela reportagem de Cíntia Piegas publicada nesta edição do Jornal mostram que, ao invés de gerar maior interesse e melhorar o aprendizado dos estudantes, o sistema que criou os chamados itinerários formativos tem dado a quem está em sala de aula a sensação de que terão mais dificuldades na hora de enfrentar um processo seletivo para a universidade. "Não sabemos o que queremos fazer. Escolhemos a trilha porque tinha que optar", disse uma jovem, resumindo o sentimento da turma. E enquanto são obrigados a lidar com mudanças que, se não foram impensadas, ao menos parece terem sido mal avaliadas quanto à utilidade e aceitação, os estudantes se ressentem do reforço em disciplinas como História, Geografia, Física e Sociologia, por exemplo.

No sentido oposto, contudo, estão os gestores, já que as secretarias de Educação do Estado e de Pelotas indicam que há boa adaptação das escolas ao Novo Ensino Médio. O que parece desconectado da realidade, visto que os próprios professores responsáveis por aplicar o novo modelo na prática se dizem pouco preparados para tal tarefa.

A experiência do Novo Ensino Médio não parece estar sendo das melhores. Fariam melhores os pensadores da educação brasileira se tentassem trabalhar em medidas efetivas e que conectem o ensino às necessidades e potenciais dos jovens atuais, ao invés de colocá-los em posição de fragilidade perante os desafios do Pave, do Enem e de vestibulares.

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