João Carlos M. Madail

Endividamento dos brasileiros em nível histórico

Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O endividamento dos brasileiros alcançou o maior nível histórico já registrado: 77,9% da população, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Dívida é qualquer quantia de dinheiro que deve ser paga. Pode ser uma pendência financeira, como uma compra no cartão, ou uma dívida moral, como um dinheiro pego emprestado com um terceiro. Já a inadimplência é a incapacidade ou o atraso de pagar uma dívida.

O último levantamento do Serasa mostrou que 69,43 milhões de pessoas entraram 2023 com o título de maus pagadores, contingente maior que a população da França. Uma das principais razões do endividamento das famílias está ligada ao desaquecimento econômico. A inflação e os juros altos prejudicam setores altamente financiados, gerando, ao longo do tempo, uma massa de empresas devedoras em relação aos seus fornecedores e aos bancos que, em consequência, restringem o crédito e comprometem ainda mais o mercado.

Com as dificuldades de obtenção de empréstimos e as dívidas corporativas crescentes, começam a surgir as primeiras demissões, o que retrai ainda mais o consumo e intensifica o processo de retração. Manifesta-se aí a crise econômica, que atinge o País há alguns anos e que tem no desemprego sua mola propulsora. Sem emprego formal, a renda média familiar é reduzida e pode diminuir ainda mais quando aparecem enfermidades e descontrole nos gastos. Mesmo aqueles que ainda mantêm o emprego, a inflação corrói o seu poder de compra e a renda, que se torna ainda menor.

Igualmente para as pessoas que recebem salários maiores, a inadimplência está presente pela falta de planejamento financeiro. Este item está entre os três motivos que levam as pessoas a se tornarem maus pagadores. Muitos podem se deslumbrar e comprar parcelado em diversos lugares e se esquecer que as parcelas vencem juntas no mês. Outra questão é o cartão de crédito, um dos impulsionadores da situação de endividados. Em 2012, a taxa de juros do cartão de crédito alcançou 409% ao ano, o que refletia o aperto da política monetária do Banco Central naquele momento. Em 2023, segundo dados do Banco Central, a mesma taxa de juro rotativo do cartão de crédito chegou a 411,5%, o maior patamar desde agosto de 2017, quando a taxa estava em 428%. Quando não há um planejamento financeiro, optar pelo parcelamento de uma dívida via cartão de crédito pode acarretar em uma inadimplência financeira. Quando se parcela uma compra, assume-se uma dívida que pode ser de médio ou longo prazo. Muitas vezes, a inadimplência acontece justamente pela não previsão das parcelas no orçamento mensal. A falta de previsão das parcelas pode gerar um descontrole financeiro, além de uma confusão na própria quantidade de parcelas e a duração delas, comprometendo a renda além de suas possibilidades.

O problema é que, com o passar do tempo e com o acúmulo de dívidas deixadas “para depois”, se as dificuldades financeiras se aprofundarem, pode ser que o devedor se perca completamente no meio de tantos títulos para serem pagos tardiamente. E, dependendo do credor, bastam dois meses para ter o seu nome na lista dos inadimplentes. Mesmo que as causas de inadimplência passem por fatores alheios à vontade das pessoas, como desemprego e redução de renda, mas também por muitos outros que podem ser dominados pela família. É o caso do aprimoramento no controle de gastos e, mais do que isso, do processo de mudança de mentalidade que envolve enxergar o presente como uma alavanca para o futuro.

Quem deseja fugir da inadimplência e até alcançar a estabilidade financeira precisa programar a renda com os gastos, numa discussão que envolve todos os membros da família.

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