Editorial
Indignação legítima
Não é difícil compreender a insatisfação de policiais civis de Rio Grande e seus colegas de todo o Estado diante da notícia de que o homem apontado como responsável por balear uma agente na cabeça durante operação no Cassino, em abril do ano passado, teve sua prisão revogada pela Justiça. Sob a alegação de que o tiro disparado contra a servidora pública não se tratou de uma tentativa de homicídio, a decisão passou a classificar o ato apenas como uma tentativa de resistência à ação policial. O que, por consequência, teria menor gravidade.
Conforme acompanhou o Diário Popular desde o começo, a policial só sobreviveu porque, tão logo foi baleada na cabeça, foi socorrida imediatamente pelo helicóptero que era utilizado na operação, recebendo atendimento médico rápido e passando por cirurgia. Apesar disso, como conta reportagem nesta edição, desde então a vítima da violência não conseguiu retomar suas funções dentro da corporação. Viva, felizmente. Mas com a carreira e vida pessoal extremamente prejudicadas.
"É muito desestimulante e triste", resumiu a colega e delegada regional Lígia Furlanetto ao conversar com o Jornal sobre a decisão judicial, lembrando que a pessoa que estava cumprindo a tarefa de combater facções criminosas no Município é, além de agente de segurança pública, mãe de uma filha pequena. Declaração semelhante à de muitos policiais civis que tiveram acesso ao despacho da Justiça. "Essa sentença fere de morte toda a população de Rio Grande, do Estado. Enfim, toda a sociedade. Ela dá um prêmio à impunidade. Parece brincadeira", criticou o presidente do sindicato da categoria, Isaac Ortiz.
Ainda que a decisão da magistrada autora do despacho possa ser pertinente e adequada diante de uma interpretação técnica da lei _ e tal discussão não caberia neste Editorial sem que especialistas no assunto viessem a analisar _, a grande questão é o recado de abatimento que pode provocar naqueles que estão exercendo, na prática, a segurança pública. Afinal de contas, como fazem questão de ressaltar, estavam cumprindo um mandado da própria Justiça para que fizessem a prisão de um suspeito. Seguindo todos os protocolos da atividade, inclusive sem relato conhecido de qualquer abuso ou excesso, atuando da forma como deve ser. E, ao darem efeito a isso, uma agente é baleada na cabeça e, meses depois, tal ato é minimizado, com seu autor sendo solto para responder em liberdade.
Nem sempre a letra fria da lei e suas interpretações são fáceis de compreender. Contudo, neste caso, o descontentamento e os protestos provocados entre aqueles que viveram a angústia do socorro à policial são absolutamente compreensíveis.
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