Sérgio Cruz Lima

Meu reencontro com Bach

Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
[email protected]

Domingo de temperatura elevada, aliás marca do verão de 2023. Heloisa foi ao Dunas com amigas. Opto por permanecer em casa, eis que tenho um compromisso agendado: um reencontro com Bach, algo há muito anelado. Acompanhado da Lu, minha companheira inseparável, apanho o DVD do grande músico do século 17, nascido em Eisenach, na Alemanha. Logo um magnífico coro duplo enche a sala de sons quase celestiais e entoa "Kommt, Ihr Tochter, Helf Mir Klagen", página inicial da Paixão segundo São Mateus, peça da autoria de Johann Sebastian Bach, o "pai da música", o "mais universal dos compositores", o "fundador da arte musical".

Ao ouvi-lo, insisto em afirmar que Bach é a perfeição. O equilíbrio que alcança enche o contábile melódico, a solidez arquitetônica formal, contrapontística e harmônica e a profundidade dos textos oferta à sua obra uma unidade somente encontrada entre os maiores gênios da história da humanidade.

Para narrar o martírio e a morte de Cristo, Bach usa os capítulos 26 e 27 do Evangelho de São Mateus, basicamente os recitativos e os coros de intervenção, enquanto as árias que intercalam a peça orquestral empregam textos poéticos de Christian Friedrich Henrici, mais conhecido como Picander.

Na Paixão segundo São Mateus penso que vários aspectos poderiam ser destacados. Porém, como não sou expert no tema, mas apenas um simples amante da música clássica, sobremodo os textos musicais de Bach e Mozart, gostaria de chamar a atenção do leitor para três aspectos que me parecem elencados no texto. O primeiro deles liga-se diretamente aos serviços eclesiásticos que Bach semanalmente realizava e a estrutura do templo onde laborava: o coro duplo. Ele tinha na arquitetura da Thomaskirche, cujo templo possuía espaço suficiente para dois coros se posicionarem um frente ao outro, a possibilidade de criar um efeito estéreo e de pergunta e resposta, que muito contribuiu, sem dúvida, para a dramaticidade da obra.

Outro aspecto que modestamente aponto é a forma como o autor tratou os belos recitativos cantados por Jesus. Diversamente de um recitativo secco, isto é, elaborado apenas pelo contínuo, Jesus é acolitado pelas cordas, que criam um mágico efeito de amplitude e doçura, como se Deus ali estivesse para amparar o filho. Somente quando Jesus diz: "Eli, Eli, lemá sabactháni?", isto é, "Meu Pai, meu Pai, por que me abandonaste?", tal acompanhamento esvai-se.

Ao fim, o terceiro e último aspecto que gostaria de apontar na obra é o requinte da escrita. Ela é perfeita! Não há reparos a fazer! Parece que Deus a ditou para Johann Sebastian Bach e ele, abençoado, apenas a transcreveu para o conjunto dos homens.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Na batalha de egos, ninguém vence

Próximo

A arte de escrever

Deixe seu comentário