Fernanda Maria Cercal Eduardo
Movimentos antivacinas fazem ressurgir antigas doenças no mundo
Fisioterapeuta, mestre em Tecnologia em Saúde, doutoranda em Bioengenharia e coordenadora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Internacional Uninter
Surpreendentemente o movimento antivacinas vem se tornando uma ameaça global e doenças controladas e até mesmo já erradicadas estão voltando a ser o foco de discussão para estratégias em saúde. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), em uma listagem identificando as dez ameaças globais à saúde (2019), inseriu a “Relutância pela Vacinação”. A lista, no passado, era composta apenas por doenças como o HIV, a dengue, a influenza etc.
O movimento antivacinas não é novo e existe há muitos e muitos anos, desde que as vacinas foram criadas em 1804. Em 1904 estudamos a “Revolta das Vacinas” nos livros de História. Em 1998, o movimento ganhou força com uma publicação na revista científica renomada, Lancet, em que os autores associaram o aumento do número de crianças autistas com a vacinação pela Tríplice Viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), resultado refutado posteriormente por meio de vários estudos.
Atualmente, o alcance das redes sociais dificulta ainda mais o controle das informações falsas que são disseminadas de forma muito rápida, quase na velocidade da luz. Especulações sem embasamento científico são cada vez mais comuns e recorrentes. “Correntes influentes” argumentam fisiologicamente a partir de uma “teoria” de sobrecarga imunológica e que é facilmente refutada a partir de inúmeros estudos que comprovam a capacidade de resposta a antígenos presente no organismo humano desde antes do nascimento.
Esses movimentos afetam a saúde pública de maneira lancinante e doenças outrora controladas e/ou erradicadas tornam-se endêmicas, assolando os países e o mundo. Um exemplo é o sarampo, considerado erradicado nos Estados Unidos em 2000 e que, em 2013, volta a assolar o país com 189 casos. No ano seguinte, registrou-se 115 casos da doença por lá.
Os movimentos antivacinas podem ser capazes de reverter todo o progresso alcançado durante anos e anos, levando, segundo dados oficiais da OMS, a cerca de dois a três milhões de mortes por ano. Nos últimos cinco anos, tem sido observada uma grande redução estatística na cobertura vacinal. Dessa forma, inúmeros autores discutem por meio de revisões de literatura e trabalhos de epidemiologia que a falta de informações da população e a contraditória disseminação de informações falsas têm contribuído para a reemergência de doenças infecciosas, como o sarampo, a poliomielite, entre outras doenças em diversos países, colocando a cada dia mais em risco a erradicação dessas doenças.
A poliomielite matou milhares de crianças no mundo todo. No Brasil, foi erradicada em 1994 graças à vacinação. De 2016 para cá, a taxa de vacinação contra essa doença vem caindo a cada ano e, em 2017, alcançou seu menor índice de cobertura vacinal. Esse fato pode ser decisivo e até mesmo determinante para a reintrodução do poliovírus no país.
A baixa adesão vacinal tem levado vários representantes governamentais a sancionarem leis pela obrigatoriedade das vacinas antes apenas recomendadas. No Brasil, a vacinação é compulsória dede 1975 quando foi criado o Programa Nacional de Imunização (PNI), porém ainda nos deparamos com a resistência da população, sobretudo estampada na internet.
Enfim, há necessidade da criação de estratégias que possam reduzir a influência, agora digital, dos movimentos antivacinas, reforçando por meio de fontes seguras a importância da vacinação. O engajamento da OMS em conjunto a todos os profissionais de saúde deve ser a estratégia inicial a fim de obter-se validade de informações baseadas em ciência. A relevância dessas ações solidificará a adesão da população às vacinas e campanhas de imunizações no Brasil e no mundo. Vamos fazer a nossa parte!
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