Eduardo Caputo

Negando as aparências, disfarçando as evidências

Por Eduardo Caputo
Pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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Negar a ciência não é algo tão atual quanto imaginamos. Em razão da pandemia, esse cenário acabou ganhando mais força, e a negação de fatos científicos tomou proporções muito maiores. Inicialmente, a lógica religiosa liderava o negacionismo. Galileu defendeu o modelo de Copérnico, onde a Terra girava em torno do sol, e por isso foi julgado e condenado pela Igreja Católica. Infelizmente, com o passar dos anos, ao invés de observarmos uma redução do negacionismo pela falta (na maioria das vezes) de lógica religiosa, vivenciamos a lógica política.

Para se entender essa relação, precisa ficar claro o papel das partes. A ciência faz a sua. Realiza estudos, produz informação de qualidade baseada em evidências, e relata isso aos interessados, em outras palavras, comunidade científica, população em geral, e claro, gestores públicos. Destes que são representados por prefeitos, governadores, presidente, deputados e vereadores, por sua vez, se esperaria a tomada de decisão baseada na melhor evidência científica disponível. Porém, na grande maioria das vezes, esse não é o cenário que encontramos.

Não é de hoje que os cientistas avisam sobre vários problemas, em diversos campos, inclusive com soluções práticas que podem ser tomadas por quem atua diretamente na legislação. Entretanto, o que vemos é um amontoado de achismos, misturados com interesses eleitoreiros, e para favorecer os empresários que apoiam campanhas políticas.

O dinheiro que financia a ciência brasileira, e que paga os salários da classe política vem da mesma fonte: os impostos coletados dos cidadãos. Ora, por que então a cobrança por ações baseadas na melhor evidencia possível não pode ser feita da mesma forma que a ciência e as Universidades são cobradas, por devolver à sociedade o investimento que lhe é feito?!

Me parece curioso que os gestores públicos tenham dificuldades de reconhecer seus erros. Desconheço algum político que reconheça que errou. Por outro lado, a ciência não vê problemas em assumir seus erros, e se retratar quando necessário. Afinal, errar é humano. Logo, sugiro que ao invés de discursos engomados, que em geral negam as aparências e disfarçam as evidências, com a licença poética da canção, os gestores públicos assumam seus erros e as responsabilidades por suas decisões perante a sociedade que, além de ser afetada diretamente, é quem paga seu salário. ​

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