Opinião
Novas oportunidades do agronegócio sustentável
Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O agronegócio responde pela maior parte de tudo que é exportado pelo Brasil e o potencial do agronegócio brasileiro há muito tempo desperta o interesse do mercado de capitais. A própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem firmado acordos de cooperação técnica com organizações do setor no sentido de fortalecer os mecanismos de acesso dos empreendedores do agronegócio ao mercado de capitais, com a promoção de estudos, pesquisas e realização de eventos. Tudo para que se desenvolva nesta cadeia de valor o senso de investimento, em uma nova geração de empreendedores do agro.
Interesse que não está limitado aos grandes investidores, visto que há interesse crescente dos pequenos e médios produtores rurais, além de outros elos da cadeia do agronegócio, em acessar o mercado de capitais para se financiar, bem como dos investidores nas ofertas do setor. E serão estes acordos firmados pela CVM que vão auxiliar no desenvolvimento de políticas e normas cada vez mais inclusivas, além da realização de ações educacionais conjuntas com produtores rurais e outros agentes da cadeia para fomentar o acesso desse setor a novas fontes de financiamento, regras e diretrizes, incluindo princípios de sustentabilidade e práticas de responsabilidade socioambiental.
Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a taxa de crescimento do PIB agropecuário, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), continuam se mostrando elevadas e muito por conta do protagonismo da soja nas demandas dos principais países importadores. Somente a China responde por 70% do volume. Lembrando que não é só para a China que vendemos e o leque de exportações é diversificado. Aliás, 2023 foi um ano especial para o agro, com grandes avanços em exportações e expansão de mercados, resultando em um recorde no saldo da balança comercial de quase US$ 99 bilhões. Um aumento de 62% em relação a 2022. Inclusive, nos consolidamos como o maior exportador mundial de alimentos industrializados (em volume), com 72,1 milhões de toneladas acima dos EUA. E as projeções para 2024 são ainda melhores, com um superávit primário ainda mais acentuado, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), quanto ao crescimento do comércio exterior do agronegócio brasileiro.
Um sucesso quase completo, não fosse o fato que por trás destes números temos, ainda, notícias de desmatamento ilegal, queimadas, invasões de terras públicas e péssimas condições de trabalho. Realidades que não cabem mais no mercado, não no mercado de capitais moderno e sustentável, em que pesam nas práticas, ou seja, na governança do negócio, a responsabilidade social e ambiental. E este é o ponto de inflexão da mais radical das mudanças, mudar o discurso. Não é mais aceitável o coronelismo, a defesa ferrenha que só é possível produzir destruindo, abrindo novas fronteiras e contaminando tudo com cargas de veneno (agrotóxicos), explorando até a última gota da natureza. Não funciona mais assim e a maioria já percebeu que precisa fazer diferente ou ficarão fora da realidade do mercado.
Os princípios ESG (Environmental, Social and corporate Governance) de sustentabilidade estão revolucionando as diretrizes do mercado, incluindo critérios que passam a ser exigidos a todo tipo de negócio, sobretudo o agronegócio. A régua está mais alta e isso tem ficado evidente nos eventos do agronegócio. Na 34º Colheita do arroz, por exemplo, acompanhei painéis, palestras e discursos com estreita conexão com as melhores práticas de sustentabilidade ESG, sejam relacionadas com o manejo do solo ou com as estratégias de eficiência e sequestro de carbono. Também vi falas muito precisas, como a do empresário Daniel Randon, CEO da Randoncorp. Afinal, não se questiona a importância do agronegócio, o que precisamos entender é como acelerar o potencial deste setor de nos colocar na posição de maior economia verde do Planeta. É aí que estão as verdadeiras oportunidades.
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