Editorial

O anda e para dos governos

Que distintos governantes eleitos tenham naturais diferenças de pensamento e de programas de gestão, com prioridades a uma área ou outra da administração pública, é natural e desejável. Contudo, no Brasil as discrepâncias entre quem assume um governo e quem deixa o posto provocam um problema histórico: a falta de continuidade de importantes obras País afora.

De acordo com relatório feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e entregue à equipe de transição do governo Lula, a gestão do petista inicia com pelo menos 8.674 obras inacabadas pela administração anterior, de Jair Bolsonaro (PL). Pior do que esse dado é saber que, deste total, 3.993 projetos são voltados à área da educação. Na sequência aparecem 1.966 ligados a saúde e mobilidade. Completam a lista 569 obras de infraestrutura, 449 para o turismo e 380 para prática esportiva. Números que já impressionam, mas que podem ser ainda maiores porque não levam em conta obras públicas realizadas com dinheiro de estatais, agências e universidades. Se incluídos estes projetos, a estimativa indica cerca de 14 mil construções inacabadas.

Ainda que nem todos estes investimentos tenham sido iniciados pelo ex-presidente – o que denota que ele próprio também herdou intervenções que se arrastam sem conclusão –, os dados do TCU apontam que isso teria piorado em seu mandato. Sobretudo nos dois últimos anos de Presidência, quando o percentual de obras não finalizadas passou de 29% para 38,5%. Projetos cujos repasses feitos pelo governo federal somam R$ 27,2 bilhões.

Para quem vive na Zona Sul, esta realidade é visível. Salta aos olhos diariamente a morosidade que impede a região de ver o fim da duplicação da BR-116, por exemplo. Esta que perpassa os governos de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Bolsonaro. Assim como o trecho da BR-392 que dá acesso ao Porto de Rio Grande. Ou o novo Hospital Escola da UFPel. Ou as escolas de educação infantil de Pelotas, anunciadas em grande quantidade e até hoje apenas algumas prontas, outras abandonadas. Ou, indo para a região da Campanha, a barragem da Arvorezinha, aguardada há mais de uma década pela população de Bagé, que segue lidando com racionamentos de água ano após ano.
Todas estas intervenções consomem dinheiro dos impostos dos brasileiros. E a cada atraso, a cada repasse para que outra gestão a conclua, se tornam mais caras, além de manterem o cidadão lidando com os problemas que elas deveriam resolver. Já que o novo governo tem esse relatório do TCU em mãos e adotou tom crítico aos atrasos e falta de conclusões, que passe a mudar a forma como se lida com as obras públicas no Brasil.​

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