Carlos Gil Turnes

O Doutor honoris causa Pepe Mujica

Carlos Gil Turnes
Professor titular da UFPel e da UNRC, aposentado
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Em seu artigo 135, o Estatuto da UFPel estabelece textualmente que o título de "Doutor honoris causa é destinado a personalidades que se hajam distinguido pelos relevantes serviços prestados à causa da educação e dos princípios fundamentais da nacionalidade".

Com surpresa, foi noticiado por diferentes meios de comunicação que a UFPel havia concedido esse título ao cidadão uruguaio José Mujica, que foi presidente da República Oriental do Uruguai entre 2010 e 2015. Com surpresa também foi informado que no ano passado a Universidad Nacional de Río Cuarto (UNRC), República Argentina, também havia concedido esse título ao ex-presidente. No ano passado o reitor da universidade argentina e uma comitiva foram a Montevideo entregar o diploma correspondente ao agraciado e, posteriormente, fizeram uma visita à UFPel, onde, entre outros registros, me fizeram uma entrevista para divulgar na UNRC. Devo esclarecer que em ambas universidades fui professor titular e integrante dos conselhos universitários e das faculdades.

O polêmico Sr. José Mujica já foi objeto de vários artigos na imprensa local. O primeiro deles (Diário da Manhã, 11/12/2009) inicia com as palavras do discurso pronunciado a seus apoiadores quando se conheceram os resultados de sua eleição, onde reconhece que demorou uma vida para compreender que "o poder não está arriba, senão no coração das grandes massas". Isto dito a uma avançada idade, após haver participado ativamente do processo desenvolvido na década de 1960 que se insurgiu precisamente contra a vontade democrática das grandes massas.

Voltei a referir-me ao ex-presidente ("Devemos mujicar?", Diário Popular, 4/8/2013) em resposta a artigo publicado dias antes em que se exaltavam atitudes que, segundo o autor, deveriam ser emuladas, desconhecendo a verdadeira trajetória desse político.

Em 2016 ("Os Tupas e o peón", Diário da Manhã, 27/12/2016), relatei, apoiado em referências de integrantes do grupo Tupamaros, as circunstâncias que levaram à execução de Pascasio Báez, um "changuero" sem militância política, salvo a de votar no Partido Nacional, que havia saído dias antes a buscar um cavalo extraviado na zona de Pan de Azúcar, perto da estrada de Punta del Este a Montevideo, por um comando tupamaro após um truculento processo "revolucionário", restabelecendo no Uruguai a pena de morte, abolida em 1905 durante a primeira presidência de José Batlle y Ordóñez.

Quais são os "relevantes serviços prestados à causa da educação e dos princípios fundamentais da nacionalidade" pelo Sr. Mujica? Levantar-se em armas contra a vontade expressamente manifestada pela população em eleições livres e inobjetáveis? Ou quem sabe haver participado do grupo que reinstalou a pena de morte decretada por "tribunais revolucionários", ambos contrários aos princípios fundamentais da nacionalidade oriental e também argentina e brasileira. E quais os relevantes serviços prestados à educação nos países que o homenageiam?

As instituições responsáveis deveriam responder essas perguntas.

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