Adolfo Fetter Júnior
O "nós contra eles" continua…
Adolfo Fetter Júnior
Ex-deputado federal, ex-prefeito de Pelotas
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Tenho acompanhado, sempre que possível, o "discurso" do novo governo federal e dos seus dirigentes (sejam os ministros, ou presidentes de estatais, como o BNDES ou o Incra, para apenas destacar dois que estão mais em evidência no momento). O presidente Lula não passa um dia sem citar Bolsonaro, demonizando seu antecessor, ou atacar o presidente do Banco Central (em função da taxa de juros em vigor desde 2022 e que está "salvando" esta administração pela redução da inflação). Os ministros petistas ou dos partidos cooptados, da mesma forma, só apontam para o passado, seja nas suas críticas, seja na reedição de programas de outras administrações, repetindo as mesmas fórmulas, sem se dar conta que o mundo mudou muito nos últimos 20 anos.
No entanto, para tentar aprovar seus projetos de lei ou emendas à Constituição, não tem base congressual, pois seus deputados eleitos e apoiadores de esquerda nas eleições passadas mal chegam a 25% da Câmara dos Deputados, o que se repete no Senado. Aí, para tentar aprovação, faz o que? Libera emendas bilionárias, promete ministérios e outros cargos na administração direta e nas estatais, para conseguir os votos que não tem, buscando atrair parlamentares do centro e da direita.
Um "toma lá, dá cá" ostensivo, descarado e público que, no passado recente, gerou os maiores escândalos da política brasileira, como o mensalão e o petrolão, mas que também envolveram o BNDES (financiando os "ditadores amigos" em vários países da América e da África), os Correios, a Eletrobras e muitas estatais.
Como não podem apagar nem mudar o passado, tentam narrativas variadas, seja na perseguição diária ao ex-presidente, no discurso amenizado sobre o MST, ou a tomada da direção da CPI do 8 de janeiro (proposta e aprovada pela oposição), apenas para citar parte delas.
Em suma, voltou com toda a força o discurso do "nós contra eles", a polarização que adoram, embora critiquem, mas, na prática, pedem o apoio de Lira (PP) na Câmara e de Pacheco (UB) no Senado e oferecem de tudo a eles e aos parlamentares do centro (que antes atacavam chamando de Centrão) para tentar governar. Não é contraditório?
Isto ficou ainda mais claro em artigo publicado no Diário Popular sobre "a escuridão das privatizações", de um prócer e articulado militante e dirigente petista, onde coloca muita gente "no mesmo saco" e ainda ataca furiosamente o PSDB, seja em suas gestões em nível nacional e também estadual.
Sobrou até para o governador Leite, que ajudaram no segundo turno a se reeleger. Esqueceram (ou fingem não lembrar) que cooptaram o histórico tucano e ex-governador de SP em quatro mandatos, Geraldo Alckmin (no passado um crítico feroz e contundente de Lula), que convenientemente mudou para o PSB e é atual vice-presidente e, por enquanto, ministro.
Para fundamentar seu bem escrito artigo, ataca as privatizações de um modo geral e generaliza, dizendo que "não deram certo". Em alguns comentários até tem algum fundamento, especialmente depois do desastre da atuação da concessionária de distribuição de energia, que levou mais de duas semanas para restabelecer alguma normalidade após o violento ciclone que atingiu o RS nos dias 12 e 13/07 e que ainda apresenta sequelas em vários municípios, especialmente na zona rural.
Nem mencionou a mudança na Lei das Estatais, para poder acomodar a companheirada e os momentâneos aliados de ocasião - especialmente os que não se elegeram - em todas elas. Haja emprego…
Enfim é a narrativa esquerdista e polarizante do "nós contra eles" (que tem sua origem no pensamento marxista e na dialética, muitas vezes confundida com apenas dicotomia, ou seja, o preto e o branco, quando a vida tem, pelo menos, "50 tons de cinza"), mas, na prática, é a compra ou busca de adesões dos que tanto criticam, inclusive utilizando os recursos do antigo "orçamento secreto", que agora mudou de nome.
E pensam que não temos memória!
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