Editorial

O preço do gás

Não dá para agradar pobre toda hora. Se você agrada pobre, desagrada o rico e quem manda no país é o rico.” A frase, que mais parece saída de alguma destas séries políticas dos catálogos de serviços de streaming, chamou a atenção no último final de semana e, infelizmente, não faz parte do universo da ficção. Segundo publicado pelo site de notícias Último Segundo, dentro do portal IG, a manifestação que abre este Editorial teria sido dita no ano passado pelo então ministro da Economia, Paulo Guedes, durante discussão com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

O contexto do argumento de Guedes seria o seguinte: preocupado com a eleição que se aproximava, o presidente tentava derrubar o preço do gás de cozinha que, em seu último ano de governo, atingiu as maiores marcas históricas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o botijão de 13 quilos, que em 2019 custava em média R$ 70, fechou 2022 a R$ 114. Sabedor que essa aceleração de quase 63% em quatro anos pesava muito no voto do eleitorado de baixa e média renda, o presidente buscava convencer o responsável pela economia a, de alguma forma, interferir na política de preços da Petrobras. Não conseguiu. 


E, ao ouvir a frase de Guedes, somada à argumentação de efeitos negativos à empresa e ao governo, Bolsonaro teria concordado e desistido da ideia. Tudo isso vindo à tona agora, conforme a apuração do portal, porque o ex-presidente teria cobrado seu ex-ministro na semana passada ao perceber que o novo governo mudou a política de preços da Petrobras e confirmou quedas nos combustíveis, incluindo o gás de cozinha, sem que houvesse os efeitos colaterais previstos por Guedes.

Se de fato ocorreu o episódio, mais especificamente a lógica atribuída a Guedes, ela só confirmaria a constatação que a sociedade tem a cada movimento econômico com reflexos nos preços do dia a dia. Para a maioria dos atores com poder sobre os rumos econômicos, costuma haver muito mais facilidade e aceitação à ideia de onerar o cidadão do que a facilitar seu dia a dia e baratear seu custo de vida. E, como efeito disso, percebe-se ação semelhante na ponta, nas raras oportunidades em que os preços caem. 


Se a cada anúncio da Petrobras de alta nos combustíveis as abastecedoras e distribuidoras de gás reajustam valores de venda quase que imediatamente, o contrário não ocorre. Tanto que por todo o País, inclusive em Pelotas e região, ainda são poucos os locais em que gasolina, diesel e botijão refletiram a queda estabelecida pela empresa estatal há praticamente uma semana. Se fosse uma alta, difícil seria encontrar quem ainda não houvesse atualizado as cobranças.

Este é o momento em que o cidadão deve pesquisar e cobrar a adoção dos novos preços por parte daqueles que tentam tirar vantagem. E os órgãos de fiscalização, como o Procon, têm o dever de agir naquilo que é sua função: proteger o consumidor, e não esquivar-se por questões políticas ou qualquer outro motivo.

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