Fernando Estima, Gerente de Planejamento e Desenvolvimento da Portos RS e empresário

O vatapá, os oportunistas e o tambor

Conta-se que em Pelotas, no começo dos anos 60, em uma festa de casamento, a família da noiva ofereceu aos convidados um lauto vatapá. Era inverno e a iguaria da culinária baiana ainda não era muito conhecida por aqui. Os convidados adoraram a novidade e a elogiaram muito. Quase ao fim da festa, um dos convivas despediu-se (era bastante conhecido e famoso por ser cri-cri e língua solta e ferina) e foi amavelmente conduzido até a saída pelos pais da noiva, que lhe perguntaram se havia gostado da festa. Ele, então, respondeu: "Sim, gostei. Mas o quarto prato de vatapá que comi já estava um pouco frio!" A história, verdadeira e com testemunhas ainda vivas, ilustra com precisão a dificuldade que é contentar a todos, em qualquer sentido, mesmo que uma maioria silenciosa permaneça satisfeita. Quero trazer esta reflexão para o plano político e da administração pública municipal de Pelotas e, desde logo, esclareço que meu lugar de fala é o de um cidadão desta cidade, que aqui reside e ama Pelotas.

Só não vê quem não quer que nos últimos 11 anos Pelotas tem se transformado para melhor, praticamente em todos os setores. Com obras infraestruturais relevantes e avanços notáveis na área da segurança pública (hoje Pelotas é referência nacional e internacional na redução de crimes. A cultura da paz e a prevenção à violência geram oportunidades. E mudam o futuro, para melhor. E por falar em futuro, com trabalho e criatividade, Pelotas encaminha-se para ser a Cidade das Crianças, graças a projetos e ações que já estão ganhando corpo e vão se intensificar.

Mas tudo está perfeito por aqui? É claro que não. A Bíblia ensina que cada dia terá sua própria agonia. Ninguém pode ignorar que o Município foi duramente atingido pela pandemia de Covid, logo em seguida sobreveio uma das piores secas das últimas décadas, seguida há pouco por uma enchente de grandes proporções. E em todos esses momentos, a cidade não parou. E, como se não bastasse, de 2022 para cá, como consequência de desastrosos remanejos tributários oriundos da órbita federal, o Município perdeu mais de 100 milhões de reais em arrecadação. Pelotas não imprime dinheiro e, a despeito do sistemático corte de gastos e da essencialização evidente de despesas, era evidente que o final do ano seria de aperto nas finanças públicas. A prefeita Paula Mascarenhas, aliás, privilegiando o princípio da transparência, nunca escondeu isso. Agora, quando é anunciado o parcelamento temporário do pagamento dos salários mais altos (a grande maioria dos servidores continuará recebendo em dia), não é de admirar que surjam os oportunistas de plantão, em busca de dez minutos de fama, criando narrativas risíveis que buscam desqualificar o trabalho de reerguimento da cidade e tripudiar em cima de questões pontuais e que serão solucionadas a seu tempo.

Uma pesquisa bem recente, feita pelo competente Instituto IPO (publicada na página 67 da edição número 1 da Revista do Diário Popular) depois de entrevistar 400 pelotenses, concluiu que, quem mora aqui, gosta de Pelotas. A pesquisa mostrou que oito em cada dez pelotenses estão satisfeitos com a cidade. Os 20% menos satisfeitos constituem minoria absoluta - embora, como cidadãos, tenham o direito democrático de expressar suas críticas e apontar os setores nos quais gostariam de ver melhorias. O problema, às vezes, é que a minoria dos mais críticos e menos satisfeitos acabam fazendo muito mais barulho do que os demais. Lembro aqui da frase genial de Aparício Torelly, o Barão de Itararé: o tambor faz muito barulho, mas é totalmente oco por dentro!

Muitas pessoas imaginam que para um prefeito, governador ou presidente, os anos mais difíceis do mandato sejam o primeiro ou o último. No caso de Pelotas, penso que esteja sendo o terceiro, por conta das adversidades climáticas e do esbulho arrecadatório. Mas ninguém tem razões para duvidar que 2024 será melhor, com mais dinheiro em caixa, muitas e importantes entregas de obras públicas e o compromisso diário do governo municipal de trabalhar com afinco, seriedade e responsabilidade para todos os pelotenses, mantendo e qualificando os serviços essenciais e construindo novos projetos que remetem ao futuro e contemplam valores como esperança, oportunidades e confiança. Todos os dias, no meu trajeto para o trabalho, tenho pensado nisso. E penso porque acredito!

Mas, é claro, sempre haverá quem reclame que o quarto ou quinto prato do vatapá esteja apenas morno...

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